20100227

Orlando Zapata Tamayo


A Orlando Zapata Tamayo, confesso que não o conhecia antes das notícias que o davam em estado crítico por causa de uma greve de fome de dissidência com o regime cubano.

Num tempo em que se incensam mitos como che guevara, fidel, chávez, e os seus regimes políticos, a morte de um dissidente político, por greve de fome, parece que já não é um facto relevante. Parece mesmo um facto insignificante, se não mesmo banal.

Como irrelevante tem sido a cobertura noticiosa do facto. O branqueamento destes factos são sintomáticos de um certo jornalismo que, à força de tentar «denunciar» os perigos do liberalismo económico, escondem violações de direitos humanos em sistemas políticos que rejeitam esse liberalismo, ou até as justificam.

Esse jornalismo não é só condenável; ele evidencia uma grande ignorância histórica e política, o que, por si só, já é muito perigoso, por se prestar a todos o tipo de manipulação.

Lembro-me do escândalo que foi a morte (também por certo lamentável, mas apesar de tudo, noutras circunstâncias) de Bobby Sands, no tempo de Margaret Thatcher.

Agora, nem se levantou um décimo da indignação de então. E, contudo, já passaram mais de 25 anos, presumindo-se que haveria outra sensibilidade. Não há.

Orlando Zapata Tamayo, descansa em Paz. O teu exemplo não será em vão.

20100222

Escutas a magistrados...

...como forma de eliminar (e punir) a violação do segredo de justiça?

A serem verdadeiras estas declarações da ainda directora do DCIAP - e ressalvo a hipótese de não o serem, ou de se tratar de uma edição do «Inimigo público» que inadvertidamente não tenha sido editada no Caranaval-, isso é uma reedição do que, em tempos, um desembargador da relação de Lisboa (eurico reis) já propôs.
Mas isso significaria, também, que a dita senhora já não sabe o seu papel e que o seu lugar - em que foi recentemente reconduzida pelo CSMP - é ocupado por alguém que não tem condições objectivas para o exercer.

20100221

A velhice, segundo Mia Couto

A velhice o que é senão a morte estagiando em nosso corpo?


A velhice não nos dá nenhuma sabedoria, simplesmente autoriza outras loucuras.

[Mia Couto, A Varanda do Frangipani]

20100218

«Conspiração»

Entre nós, já houve «cabalas», «urdiduras» e «calhandrices».
Agora, há uma estranhíssima coincidência (parecença?) entre berlusconi e josé pinto de sousa. Acredito que não será mais do que isso.
Mas é verdade que os estrategos de marketing são da mesma "escola". E começam a abandonar envergonhadamente o palco de cena onde arribaram pela mão dos poderosos da conjuntura.
Creio que o País também se começa a aperceber da extensão da vergonha que tem sido a encenação que o (des)governa.
Não sei se esta proposta de Marcelo R. de Sousa - a ser aceite - será suficiente para sair do atoleiro onde nos colocaram. Marcelo e Vitorino podem ser "senadores" dos seus partidos. E estar bem intencionados. Não são é os protagonistas mais idóneos para essa proposta.
Mas haverá outros?

20100210

Sob escuta

As escutas têm - não há dúvida - um grande potencial de letalidade. Os mesmos que antes pediram a demissão de outro Procurador-geral (por causa de pseudo-escutas), hoje, ignoram a gravidade da situação. Pior, prevalecem-se dela.

20100207

20100203

minoria absoluta

É claro que pinto de sousa não suporta governar sem maioria absoluta. Daí que não seja de estranhar que estique a corda.

O "big brother", em nome da transparência e do combate à corrupção

Afinal, foi mais um balão de ensaio.
Mas foi revelador das intenções dos nossos "Torquemadas modernos".

Coscuvilhice fiscal?

O unanimismo em torno da «medida extrema» e de «puro voyeurismo», revela que não houve negociação prévia e que se trata de mais um refinado disparate jurídico do partido do governo (no sentido de publicar na internet o montante de rendimentos brutos dos contribuintes.
Surpreende-me como a sanha persecutória no combate à corrupção não lhes dá para outras propostas mais ... sensatas (seria possível?).

Mas o que não deixa de (ainda mais) ser estranho é a falta de pudor em revelar muitas propostas de devassa da privacidade e do mais ignóbil populismo, mesmo que inconsequentes.
Na verdade, trata-se de um governo ignorante, em que o seu 1.º ministro demonstrou ignorar o impacto de medidas que aprova e desconhece autores literários reputados (como aconteceu ontem, dia 2-2-2010, quando não reconheceu José L. Peixoto e evidenciou desconhecer a características de uma medida que ia propagandear: no caso, o n.º de anos lectivos do curso de medicina da Universidade de Aveiro, para licenciados, dizendo serem dois, quando são quatro)

«Calhandrice»

O termo não existe nalguns dicionários, mas pode ser interpretado amplamente como o atributo de «calhandreira»: meretriz, bisbilhoteira (cfr. Dic. Moraes).
O caso Mário Crespo vem revelar a verdadeira natureza dos nossos governantes, que se indignam por se trazer para público a «intromissão em conversas privadas».
Esse facto, em si, pode, abstractamente, ser crime, pelo qual não consta que qualquer dos conversadores "vítimas de intromissão" se haja queixado.
Esta gente, tão indignada com a intromissão nas conversas privadas, é a mesma que propõe a divulgação online dos rendimentos brutos dos contribuintes, a pretexto de se tratar de um instrumento de combate à corrupção.
Há que temer o pior. Guilherme d´Oliveira Martins não deve ter força suficiente para os convencer da calhordice que se prepara. Porventura, nem o Tribunal Constitucional.

20100201

Liberdade de imprensa

Quando todos os escribas dos jornais do «amigo joaquim» tiverem a liberdade de expressão que foi proibida a Mário Crespo, talvez possa haver democracia em Portugal e se possa dizer que há «opinião pública».
Até lá, isso é miragem. Claro que a manutenção de Crespo no «universo controlinvest» era insustentável. A prova aí está.

Máximas

«Neste ofício de romancista, ou se sabe tudo da vida alheia, ou não se escreve nada»

[Camilo Castelo Branco, A mulher fatal]