20091031

Este homem vai ser morto

As vitualidades da videovigilância.
O executor da camorra napolitana foi identificado pelo registo da filmagem.
Penso que o debate sobre a tutela da privacidade deve contar com exemplos destes.

Face oculta II

«A corrupção não o interessava; crimes de colarinho branco tinham tomado conta de todo o trabalho de primeira linha, mas esse mundo cheio de segredos e de nomes sonantes indispunha-o e quase o deprimia, como se andasse a desprestigiar a natureza do próprio crime».

Francisco José Viegas, O Mar em Casablanca

20091030

Dez mil €uros?

Aquilo que pode vir a ser a operação «mãos limpass» à portuguesa, pode também, com probabilidade, vir a tornar-se um desaire.
Desde uma palete de cimento para um cabo da GNR até 27o mil euros para Paulo Penedos, e 10 mil euros de gratificação a armando vara...

É, pois, natural que um seja candidato (derrotado) a secretário geral do ps e outro seja vice-presidente do BCP, tomado de assalto pelo ps.

Não nos devemos esquecer é que Teófilo Santiago foi cilindrado por "não ter dado cavaco" às chefias aquando do «Apito dourado». Será que, agora, cumpriu os protocolos?

Agora, que se fala numa reforma da reforma penal e processual penal, ou me engano muito, ou ainda vamos assistir a uma "reforma" que vai estatuir que um suspeito não pode ser vigiado mais de 48 horas. Tudo em homenagem aos direitos de personalidade e de imagem, claro.

Os lentes penalistas esfregam as mãos, com os pareceres que lhes irão pedir...

20091029

Face oculta

Polícias e magistrados não deixam recuperar a «banca». Parecem apostados em afundar as excelentes expectativas do sistema financeiro e bancário...

20091024

Deus e saramago ou um debate inconsequente

É muito natural que alguns escritores optem por fazer publicidade bombástica dos seus escritos, mesmo que isso implique a blasfémia ou a heresia, face a valores religiosos. De qualquer forma, o aumento da tolerância religiosa absorve, normalmente, a polémica, e a vida continua.

Que um escritor prémio Nobel venha denegrir e veicular ciclicamente uma leitura literalista da Bíblia (e de outros textos religiosos fundacionais?) é episódio que ameaça converter-se num folhetim de recorte habitual e com contornos pouco edificantes e que pouco acrescentam ao debate. Mas há quem continue a "morder o isco".

Sinceramente, penso que saramago tem todo "o direito à heresia", concebida esta como uma forma de intolerância não violenta, o que se compreende no quadro dos Estados contemporâneos, em que a separação da Igreja e do Estado é um assunto pacífico.
Que saramago aponte os efeitos nocivos da religião, e que dirija as sua críticas a uma hierarquia da Igreja acomodada e conservadora, pouco (pre)ocupada com as necessidades dos desfavorecidos é compreensível, e dessa perspectiva comungam muitos crentes.

O problema é quando a mensagem não é mais do que um truque provocatório e de baixo perfil intelectual.

"Ler" a Bíblia de uma forma imediatista e literalista é um erro básico, que todo o catecúmeno sabe que não deve cometer. A Bíblia não é, de resto, apenas um Livro, é uma Biblioteca, no sentido de lá se encontrarem respostas para as mais diversas interrogações do Homem. Respostas com as quais se pode concordar - e praticar -, ou não. Sem que isso nos dê o direito à infâmia ou à ignomínia, como parece,mais uma vez, fazer saramago. Este nunca repudiou os "gulags" ou as purgas de estaline, nunca se lhe ouviu uma palavra crítica para com os sistemas do Leste, com todo o seu cortejo de opressão e obscurantismo dos povos, numa época histórica em que aqueles já coexistiam com sistemas políticos democráticos e livres.
Mas compraz-se em exautorar os efeitos nefastos de interpretações da Bíblia historicamente situadas em períodos de generalizado obscurantismo.
Certo, hoje ninguém ousa defender as cruzadas ou a inquisição. Vituperar hoje estes feitos históricos, soa a algo de tão artificial como elementar.

No entanto, é legítimo questionarmo-nos: estaríamos dispostos a "apagar" as cruzadas e a inquisição da História, prescindindo da Arte, da Música e da Cultura de inspiração cristã?

A resposta já será, seguramente, mais resoluta se a opção fosse entre "apagar" o estalinismo e o maoismo, abdicando de Marx.

20091020

O cego de Landim

«Pinto Monteiro organizou a boémia que, até àquele ano, roubando sem método nem estatutos, exercitara a ladroeira de um modo indigno de país em via de civilização. fez-se eleger presidente por unanimidade e nomeou seu secretário Amaro Faial. Havia um propósito quase heróico neste feito (...).
Quem ouvisse discursar o presidente sociologicamente, ficaria em dúvida se furtar era ciência ou arte. Pinto Monteiro enxertava nas suas prelecções acerca da propriedade umas vergônteas que depois enverdeceram com estilo menor nas teorias de Cabet. Os malandrins mais inteligentes, depois que o ouviram, desfizeram-se de escrúpulos incómodos, e entre si assentiram que não eram ladrões, mas simplesmente deserdados pela sociedade madrasta e vítimas de uma qualificação já obsoleta».

Camilo Castelo Branco, O cego de Landim

20091019

O «senhor amargo»

Quando a minha filha mais velha era mais pequena, referia-se a josé saramago como o «senhor amargo». Confesso que, mesmo inadvertidamente, nunca vi designação mais adequada.

O nosso prémio Nobel veio mais uma vez procurar notoriedade cavalgando a intolerância religiosa e o dogmatismo ateu, declarando que a «Bíblia é um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana». E disse mais: não deve esta mensagem afectar os cristãos, porque estes não lêem a Bíblia, mas talvez agastasse os judeus, mas «isso pouco o importa».

O facto é, em si mesmo, grave, pela desenvolta manifestação de uma sobranceria intelectual a todos os títulos reprovável - mas a esconder mal uma ignorância hermenêutica dos textos religiosos antigos - num ancião por quem se devia ter respeito. Apesar disso, o espírito proverbialmente tolerante dos portugueses, perdoar-lhe-á o disparate.

Mas, mais grave é que a comunicação social tenta, a todo o custo, silenciar, agora, o que o provecto escritor disse acerca do Corão e de Maomé.

Era bom que houvesse a coragem - em nome da fidelidade da informação e da liberdade de expressão - que os media reproduzissem o que o Nobel português disse sobre a questão. Para que os muçulmanos se possam pronunciar.
Eles também têm o direito a ser informados e a pronunciar-se.

20091015

Uma «Reforma Penal» pelas ruas da amargura

O que o Senhor PGR veio dizer é o que todos os operadores mais ou menos sinceros e despreconceituosos disseram ou diriam da «reforma penal de 2007».
Em dois anos, o novo modelo mostrou-se inadequado, rígido e pouco flexível, não tendo introduzido especiais garantias processuais em matérias sensíveis (recolha de prova como, p. ex., de amostras biológicas), embora pretendesse exteriorizar o atingir de um certo «esplendor garantístico», que defintivamente impediria a repetição de processos como o «casa pia».

Estes relatórios do insuspeito OPJ revelam o segredo de Polichinnelo. Dois anos de pura e dura teimosia governativa, com custos formidáveis no tocante às perturbações de funcionamento do sistema e da modificação de alguns paradigmas, cuja constitucionalidade ainda não foi bem testada.
O Governo até tem, de facto, uma atenuante: a de o Parlamento ter aprovado (com consensos irresponsáveis de uma grande franja de partidos) uma lei bem diferente da que lhe foi proposta.
Caso para perguntar: por estas «soluções arrepiantes» [no dizer de Costa Andrade] ninguém é responsável?

20091014

Mai-quê proênssa?

Que uma fulaninha se entretenha num chorrilho de dislates e exiba a sua ignorância e boçalidade num vídeo de duvidoso profissionalismo, é um facto ordinário.
Que essa criatura seja uma actriz de tv, famosa por "novelas das 8", já pode sobressaltar os pergaminhos indígenas, se, por exemplo, no tal vídeo, ela cospe numa fonte dos Jerónimos.
O vídeo extravazou a brejeirice e resvalou para o patibular. É um facto.
Mas que isso mereça a indignação pátria e um "abaixo assinado de desagravo", parece-me uma reacção de pseudo patriotismo bacoco, que só promove a estrelato maior a conduta biltre e ignara que desenvoltamente demonstrou a sua autora.
E mais bacoco, ainda, é vir pedir desculpas num outro vídeo, o que só pode reforçar o juízo de burgesso subdesenvolvimento cultural da personagem.

Mas, por favor, que isso não nos tire um espavorido segundo de inquietação.
Há coisas bem mais importantes.

Salvé, João Paulo Borges Coelho

Para quem já conhecia João Paulo Borges Coelho não constituirá surpresa a atribuição do Prémio Leya 2009, com o livro «O Olho de Hertzog» (ainda que num "concurso cego").
É, de qualquer forma, o reconhecimento merecido do talento e da sabedoria de tecer enredos e histórias da História.
É uma distinção para a cultura moçambicana, em qualquer caso muito esquecida e subalternizada pelos cânones dos best-sellers e dos gonzos literários.
Eu diria até, que João Paulo Borges Coelho não é apenas um dos maiores prosadores moçambicanos actuais, é um dos grandes pensadores moçambicanos. Ponto.
Salvé, pois. Kanimambo, João.

20091013

"Preservação das espécies"

Ainda vou ter que andar muito para perceber porque é que se proíbem animais nos circos e se deixa impunemente existir "circos de pessoas", em estações de televisão (agora, que já se proibiu o lançamento de anões).
Ainda me hão-de explicar como é que se justifica a proibição dos animais nos circos por razões de saúde pública (cruzes! Quantas epidemias de carraças e de pulgas já apanhei em circos com animais!) e nada se faz para evitar os cocós dos cãezinhos nos passeios.
Acho que vou esperar sentado até me explicarem qual é a diferença entre a crueldade para com os animais no circo e os louváveis atributos da tourada...
Os "iluminados" que aprovam estas medidas higieno-humanistas têm-se esquecido de preservar a sua própria espécie.
E o rebanho indígena acata com bovina condescendência.

20091009

Nobel da Paz 2009

Provavelmente, uma das coisas mais inteligentes que o Comité Nobel tenha feito.
A atribuição do Prémio Nobel da Paz 2009 a Barack Obama significa que se está a abençoar esta administração americana e a alimentar a expectativa de que possa inaugurar um novo modelo de relacionamento dos EUA com o resto do Mundo. Porque, inequivocamente, o Mundo precisa dos EUA e estes precisam do Mundo.
É um sinal de que se "legitima" o poder dos EUA para se apresentar como potência pacificadora, embora só com base no discurso do presidente. O que pode ser um risco.
Resta saber se o decurso da História confirmará, ou não, essa unção.

20091008

E eu a pensar...

...que quem tinha tido o apoio dos seis milhoes de benfiquistas era o eng. socrates.
Os "portistas" devem ter emigrado todos do Porto...

Jaime Ramos, detective do Porto

Sim, Jaime Ramos já deve ter regressado da sua última investigação contada n´«O Mar em Casablanca» [último livro de Francisco José Viegas].
Deve estar, nesta altura, a passear no Parque do Covelo, aproveitando os dias de férias que tinha acumulados. Ou, então, a procurar um livro sobre receitas conventuais, nos alfarrabistas da Travessa de Cedofeita.

(Ainda) há juízes em Roma

O Tribunal Constitucional italiano declarou inconstitucional a lei aprovada pela maioria de berlusconi, que, na prática, permitia a sua impunidade em processos nos quais é arguido, enquanto desempenhasse cargos políticos.
Em boa verdade, a dita "lei" permitia que qualquer criminoso que se candidatasse a eleições e fosse eleito, veria "absolvidos" os seus crimes praticados antes da sua eleição. O tempo de exercício dos cargos não fazia suspender a prescrição dos crimes e, assim, os políticos imputados poderiam ver prescrever os mesmos, se se aguentassem o tempo necessário para a prescrição. Mesmo que nada tivessem a ver com a actividade política. Seria o caso do próprio berlusconi, a braços com dois processos "estagnados".
A Corte (ainda que com votos contrários) entendeu que essa solução era um absurdo jurídico, pois violava os mais elementares princípios da igualdade dos cidadãos perante a lei criminal, além de outra argumentação convincente.

Isto passou-se em Itália, o único país europeu - além do nosso governo, que para isso desautorizou o embaixador M. Maria Carrilho - que apoiou para secretário-geral da UNESCO um cavalheiro que disse que queimaria pessoalmente todos os livros hebraicos da biblioteca de Alexandria.

20091007

«O Mar em Casablanca» de Francisco José Viegas

Jaime Ramos, o inspector da Directoria da PJ do Porto, regressa hoje (ou amanhã) à cena do crime, em mais um livro de Francisco José Viegas.
Aguarda-se gulosamente mais esse episódio de um detective tão familiar.
Boa investigação.

Cecilia Bartoli e Bryn Terfel - «La ci darem la mano» (Dom Giovanni - Mozart)

20091005

República

A República, que fará 100 anos no próximo ano (2010), está em crise. Estão em crise os próprios valores republicanos da dignificação dos cidadãos sem distinção de casta e de origem, o valor da lei se aplicar a todos de forma igual.
O que parece é que vai havendo consulados de gente "predestinada" que julga ver numa escolha eleitoral, um aval para projectar o poder pelo poder. Mas isso é perigoso, porque em vez de se fazer a pedagogia da participação cívica e popular, afasta cada vez mais os cidadãos da República (o que talvez seja o objectivo último dessa gente ou, ainda mais preocupante seria, se não houvesse objectivo nenhum)
É preciso que não haja um "Buíça da República".

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Uma forma de arte efémera. Jorge Colombo ensina-nos.

20091003

Pela boca morre o peixe

A candidata à Câmara do Porto pelo ps já prometeu que deixaria a «gamela» de Bruxelas, se fosse eleita presidente da CMP (mas nunca ficará como «mera» vereadora).
Os cidadãos do Porto devem estar advertidos da natureza da pessoa que elegeriam.

20091002

Corrupção

Continuamos a "vencer" a corrupção...