20061230

Da gratuita crueldade

Nunca esperei ter de escrever isto a propósito da morte de um ditador, mas creio que se justificará abordar a questão:

Saddam Husein foi enforcado, após um julgamento muito peculiarmente mediático mas pouco jurídico. Digamos que, em abono da verdade, se tratou de um pseudo-julgamento numa farsa de sistema judicial (só o não é quanto às consequências).
O único governo que se regozijou com o feito foi o dos EUA. Vergonhoso.
E o que se conseguiu?
Nada.
Abriu-se um capítulo histórico sem Saddam (vivo), mas com um "mártir" que pode ter uma influência bem pior do que se continuasse preso.
Impediu-se o imputado de se confrontar com a responsabilidade pelos demais crimes de que é(ra) acusado.

Há um evidente retrocesso civilizacional em todo este processo, em que a lei da força e da prepotência - ao suprimir-se (ainda que a coberto de uma justificação legal de opereta) uma vida humana - continua a preponderar, face à lei da razão e do bom senso.
O sinal dado foi o de um sistema de poder mas sem valores. Sem os valores que os povos do mundo precisam: da humanidade, da solidariedade e da reconciliação.
Foi cruel.
Foi gratuito.
Pior do que isso, foi a prova de assistirmos ao triunfo da barbárie.

20061228

Corno de África: a terceira frente

Confirmando a ordem de osama bin laden, a Jihad da «União dos Tribunais islâmicos» da Somália, faz incendiar, de novo, o Corno de África.
Aqui, vive-se, outra vez, a guerra. Uma nova frente de guerra contra a aliança de um Islão intolerante e agressivo.
O poder na Etiópia, prevendo uma projecção real da ameaça islâmica, decidiu-se a apoiar o poder legítimo da Somália (seja lá o que isso for, mas pelo menos, era o governo internacionalmente reconhecido), acantonado e derrotado em Baidoa.
Resta ver o que esses "aliados" improváveis das terras do «Preste João» conseguirão fazer.
A julgar pelo passado, não se espera nada de bom.
Mas, a alternativa (mais real) de um Sudão, de uma Somália e de uma Eritreia rendidas ao "Califado da Al-qaeda" é, seguramente, mais inquietante.
O ponto é que o tradicional «deixar andar» das instâncias internacionais em geral, e da ONU em especial, vai tornar a situação humanitária insustentável, degradando-se até limites infelizmente já banais.

20061227

Capela do baluarte

Capela do baluarte da fortaleza de S. Sebastião, Ilha de Moçambique (extraído do Estradapoeirenta).

Esta capela, talvez depois da construção da Igreja da Cabaceira, foi um dos primeiros templos cristãos da costa oriental africana.

Pena de morte III

«Uma vida não vale nada. Mas nada vale uma vida».

André Malraux.

Pena de morte II

A pena de morte não é hoje - de acordo com a penologia contemporânea que se reclame de um ideário humanista - uma verdadeira pena. Não pode ser concebida como tal, uma vez que se suprime o que deve ser o seu sujeito: alguém que foi, no termo de um processo com garantias de defesa efectiva, julgado culpado por um facto criminoso.

Os problemas que a pena de morte coloca não são, sequer - a meu ver - problemas essencialmente jurídicos. Sê-lo-ão do foro ético, ou do âmbito da política criminal. Por isso, repugna hoje que, a pretexto de se punir um homem - qualquer que ele seja, ditador, terrorista, torcionário, homicida - se lhe imponha a morte, definida enquanto pena. Esse passo é, além do mais, uma assunção de impotência e de capitulacionismo, injustificado ou injustificável por qualquer doutrina politicamente correcta ou incorrecta.

Não nos surpreende totalmente é que tais derivas venham sopradas de um sistema jurídico tão fortemente contraditório como é o dos EUA, mesmo quando travestido de direito local (como o de um sítio mal frequentado que já foi um Estado e um País, o Iraq).

É mais um aviso que fica para os mais crédulos...

20061226

Símbolo
















Este padrão de azulejo nacional é um dos meus preferidos. A complexa simplicidade do seu desenvolvimento pluriespacial, dá-nos também múltiplas perspectivas de observação e de análise.

Em dias de infâmia: a propósito da condenação à morte de Saddam Hussein

«A pena de talião peca por míngua e peca por excesso. Por míngua, na medida em que nenhuma reparação repara a ofensa; por excesso, uma vez que a justiça ultrapassa nela o seu objectivo. O crime ilegal, numa problemática perspectiva de liberdade plena, compromete apenas o agressor. O crime legal, onde tal perspectiva é incontroversa, compromete toda a sociedade, que nessa maciça, fria e desmedida resposta ao agravo dum só se exautora e condena. Com o arsenal de meios coercivos de que dispõe - cadeias, penitenciárias, reformatórios, etc., etc., - que necessidade tem ela de suprimir o que pode eficientemente neutralizar? Por acreditar no poder frenador dos espantalhos? Por não acreditar na regeneração do culpado? Por estar segura da inteira responsabilidade dele? Ou, simplesmente, por ter ainda saudades de uma ancestralidade nevoenta em que o religioso, o supersticioso e o impiedoso se confundiam?
(...)
A tragédia do homem, cadáver adiado, como lhe chamou Fernando Pessoa, não necessita dum remate extemporâneo no palco. É tensa bastante para dispensar um fim artificial, gizado por magarefes megalómanos, potentados, racismos e ortodoxias.»

Miguel Torga, Pena de Morte.

20061223

FELIZ NATAL

NATAL

Mais uma vez, cá vimos
Festejar o teu novo nascimento,
Nós, que, parece, nos desiludimos
Do teu advento!

Cada vez o teu Reino é menos deste mundo!
Mas vimos, com as mãos cheias dos nossos pomos,
Festejar-te, - do fundo
Da miséria que somos.

Os que à chegada
Te vimos esperar com palmas, frutos, hinos,
Somos – não uma vez, mas cada –
Teus assassinos.

À tua mesa nos sentamos;
Teu sangue e corpo é que nos mata a sede e a fome;
Mas por trinta moedas te entregamos;
E por temor, negamos o teu nome.

Sob escárneos e ultrajes,
Ao vulgo de exibimos, que te aclame;
Te rojamos nas lajes;
Te cravejemos numa cruz infame.

Depois, a mesma cruz, a erguemos,
Como um farol de salvação,
Sobre as cidades em que ferve extremos
A nossa corrupção.

Os que em leilão a arrematamos
Como sagrada peça única
Somos os que jogamos,
Para comércio, a tua túnica.

Tais somos, os que, por costume,
Vimos, mais uma vez,
Aquecer-nos ao lume
Que do teu frio e solidão nos dês.

Como é que ainda tens a infinita paciência
De voltar – e te esqueces
De que a nossa indigência
Recusa tudo o que lhe ofereces?

Mas se um ano tu deixas de nascer,
Se de vez se nos cala a tua voz,
Se enfim por nós desistes de morrer,
Jesus recém-nascido!, o que será de nós?!

José Régio

Pequenas grandes mínimas

«Não tenho memória futura, só tenho memória passada».

Carolina Salgado, Expresso de 23.12.2006

20061221

Conselho (assumidamente petensioso) a MJM

Maria José Morgado foi encarregada, pelo Procurador-geral da República (seu superior hierárquico), de coordenar o material que ainda sobrou do processo «Apito dourado».

O modelo é novo, ou melhor, inovador, uma vez que aparece uma magistrada com poderes plenipotenciários para coordenar matéria processual em investigação respeitante a diversas comarcas (já houve os casos da JAE, dos hemofílicos, do Ministério da Saúde, mas tudo relativamente a situações ocorridas em Lisboa). Aparentemente, é um "mini-dciap" à margem do DCIAP.

Não concordo com a leitura que vai fazendo carreira, de ter sido um «presente envenenado», para acabar de vez com veleidades de protagonismo de MJM. Acho que é uma mulher suficientemente inteligente e informada para perceber que o futebol e a sua corrupção é coisa menor. E que a sua indigitação poderá fazê-la aproveitar um oportunidade. A de passar do sub-mundo do futebol para as mais sérias e preocupantes maquinações das autarquias, das obras públicas, do financiamento dos partidos, enfim, a corrupção a sério, a que pode pôr em crise o Estado e os interesses dos cidadãos.
Duvido que consiga alcançar esse objectivo (e nem sei se é esse o seu propósito), pois, aí, os escolhos são verdadeiramente delicados e a opacidade é de monta. Não se esqueça, aliás, que sobre o processo «Apito dourado» paira uma espada de dâmocles - a hipótese da inconstitucionalidade orgânica do diploma da corrupção desportiva - para além das proverbiais embrulhadas originadas pelos «mega-processos», com o folclore do circo mediático e seu aproveitamento pelos envolvidos e pela mais que provável eternização.

MJM, aceite um bom conselho: não tenha ilusões, não se deixe enredar em lances manhosos de arbitragem e, sobretudo, perder tempo a ler relatos de profissionais de alterne.

20061220

Política criminal à "flor da pele"

«O tempo dos grandes "monumentos " legislativos, ao jeito dos grandes códigos napoleónicos, tendencialmente destinados a "viver para sempre", esse tempo passou definitivamente.
Isto, porém, é uma coisa. Outra, completamente diferente - que verdadeiramente se situa nos antípodas - é a de o legislador ceder à tentação, particularmente repugnante em matéria penal, de alterar a lei constantemente, de fazer da lei uma forma de governo da sociedade, em função de meros episódios da vida quotidiana, as mais das vezes artificialmente amplificados, quando não deformados no seu significado, por poderosos meios de comunicação social; fruto, como uma vez se exprimiu de forma insuperável o meu Colega Costa Andrade, fruto de uma "política criminal à flor da pele".»

J. Figueiredo Dias

20061219

Pequenas grandes máximas

«Faz uma lista com 25 coisas que achas dever experimentar antes de morreres. Anda sempre com ela na carteira e consulta-a com frequência»

H. Jackson Brown Jr, Pequeno Livro de Instruções para a Vida.

20061216

As huris

Quando eu acreditava
que as huris
não esperavam os mártires

mas suavizavam, apenas,
as penas e as dores
dos viventes neste mundo de desdita e fealdade

talvez fosse pueril

dir-se-lhes-á, agora,
com promessas de direito sobre a vida,

que vão, com sua eterna e terna beleza
curar as chagas dos heróis
que chegam
das batalhas travadas por um deus
que os não perfilha.

20061214

Poder, corrupção e futebol

1. Nos últimos dias, a paróquia anda num frenesim, por causa de um "best seller" dessa novel autora que dá pelo nome de C.S., ex-companheira do sr. J. N. Pinto da Costa, presidente do FCP.
Revelações escaldantes sobre negócios, esquemas, «encomendas de crimes», relações obscuras, tráficos de influência, etc, redundaram, segundo ouvi na TSF, na indiciação de um rol de «dezasseis crimes» e «onze suspeitos».
O caso até podia lembrar vagamente as denúnicas da ex-amante do empresário italiano que desencadeou a operação «Mãos limpas». Mas, qual quê? Portugal é outra coisa. Ninguém acreditará que a dita senhora - louvando-lhe o desassombro (nunca ninguém, até hoje, pôs tanto em causa um dos mais emblemáticos rostos do dirigismo desportivo e dos meandros do seu sistema) - resista muito às verdadeiras condicionantes e influências que enformam o mundo do Futebol.

2. O PGR chamou o magistrado do processo «Apito dourado» para se inteirar do que sucede(u) no processo e sobre as alegadas intimidações e perseguições de que terá sido alvo. Só pode ter sido, obviamente, para lhe dar todo o apoio.

3. O Governo (pela boca do ministro da Justiça na A.R., anuncia a criação de uma «Unidade nacional anti-corrupção», com prioridade para a corrupção no «fenómeno desportivo», não precisando os seus concretos contornos, âmbito de competências e dependência funcional.

Isto é, o Estado continua a ter uma atitude reactiva e vai a reboque dos epifenómenos mediáticos.

É um dado consensual que a corrupção no desporto não é de hoje. É um fenómeno antigo, que impregna os interstícios do complexo sistema organizativo desportivo que os Partidos ajudaram a criar e muito acarinharam: quem não se lembra do anúncio das «grandes vantagens» da criação e autonomização da Liga de Clubes? Já se esqueceram do que foi a esperança desse novo e promissor modelo das "sociedades desportivas"? É certo que havia imposições comunitárias a cumprir, mas os protagonistas de todo esse processo foram sempre os mesmos.

Quem fomentou e possibilitou todo o actual estado de coisas? Há nomes e interesses bem conhecidos.

Porém, o que verdadeiramente interessa é desviar, agora, a atenção do «povinho» para uma área que é realmente crítica, mas que não é fulcral no funcionamento do Estado de Direito. É claro que haverá que investigar todos os factos que sejam ilícitos e responsabilizar os seus autores. No entanto, mais uma vez, o Estado falhou no diagnóstico e na antecipação dos problemas. Sobretudo na sua identificação.

A corrupção que verdadeiramente destrói o Estado de Direito é a que está ligada ao funcionamento ilegal dos partidos, à adjudicação das obras públicas de menor (a nível autárquico) ou maior vulto (directa ou indirectamente, através das engenharias financeiras de projectos faraónicos como OTA e TGV) e à evasão fiscal.

Aí é que se tornava necessário uma «Unidade» (ou um «milhão»?) para a prevenção - sobretudo a prevenção - e combate à corrupção.
Mas, uma vez mais se perde(rá) a oportunidade. Contra todos os discursos políticos, avisos presidenciais e boas intenções piedosas da moda. Aí, não se pode tocar.
Talvez se começe a perceber, finalmente, o propósito último de todos os esforços para descredibilizar o sistema judiciário e de investigação criminal.



P.S. Parece que os dois magistrados do Ministério Público (um deles em funções no DCIAP) que haviam aceitado a indigitação para os lugares de vice-presidentes do Conselho do Justiça da F.P.F. (na Lista do dr. Gilberto Madaíl) recuaram e já não são candidatos. Antes assim.
Só é de lamentar que tenha sido necessário que outros os tivessem convencido por, aparentemente, os ditos cavalheiros não se darem conta, por si, da figura (efeito de branqueamento) a que se presta(va)m, num momento em que os juizes serão impedidos de integrar taís organismos.

20061212

Pinochet morreu

Para mim, há muito tempo.
Não tenciono dizer mais uma palavra sobre o assunto.

Sociologia

Tenho o meu pequeno tratado de sociologia,
uma sociologia de horizontes modestos.
Ponho-me a remorder
continentes, povos, hábitos e costumes,
mas a minha sociologia não
passa disto,
uma sociologia de esquinas.
Da malta e das esquinas,
e tudo muito limitado.
Vem de antes de mim
e irá para além um pedaço.
Antes, era o grupo do Jacaré,
a geração que me precedeu.
Vinham, como sempre, após os estudos,
por volta das cinco da tarde,
um a um,
sentar-se na dobra do passeio, à esquina,
alguns inda vinham da geração anterior.
Agora outro grupo, outra esquina,
outros nomes (alguns inda se sentaram
à minha beira).
As coisas mudam muito,
mas nesta essencialidade
a malta permanece.
E, ainda,
com a brisa da tarde a cair,
se vêm sentar na borda do passeio,
à esquina.
Eu aqui mordo-me de lembranças
e saudades,
faço esta sociologia
e nunca mais, com a brisa da tarde a cair,
me irei sentar na borda do passeio,
à esquina...

Rui Knopfli

20061209

Bandidos

Sempre me causou alguma perplexidade a complacência (muito própria do nosso «nacional-porreirismo») com que se encara a inobservância de deveres - quando não a sua violação - por parte de (ex)funcionários da administração pública.
A verdade é que muitos deles, obtido o merecido (mais para uns do que para outros) estatuto da aposentação, dedicam-se a actividades profissionais e empresariais (muito lucrativas) incompatíveis com tal estatuto.
Fazem-no, algumas vezes, em concorrência com os serviços donde provêem. Quase sempre rentabilizando as competências técnicas, científicas e informativas adquiridas durante a sua vida activa, a expensas do Estado (de todos os cidadãos contribuintes). E fazem-no em benefício próprio ou de entidades empresariais que deles se aproveitam.

Estas práticas são correntes nos ex-militares e ex-agentes policiais, que se dedicam a actividades de segurança privada (regular ou irregularmente). Muitos deles não se encontram superiormente autorizados a exercê-las, o que só por si, viola o dever de lealdade.

Não tenho dúvida que estas actividades podem fazer incorrer os respectivos agentes em incompatibilidade de deveres. É que um ex-funcionário aposentado continua sujeito ao estauto do funcionalismo público, nomeadamente aos deveres dele decorrentes.
Isto vem a propósito das notícias de que a comunicação social de hoje faz eco, respeitantes a supostas actividades de devassa da vida privada de magistrados e agentes da Polícia Judiciária envolvidos no processo «Apito dourado», levadas a cabo, precisamente, por indivíduos referenciados como ex-agentes da DINFO e da própria Polícia Judiciária (aposentados) que, a mando de "vá-se lá saber quem", durante os anos 2004 e 2005, tentaram insidiosamente recolher dados pessoais comprometedores daqueles e ameaçá-los (directa ou indirectamente) com vista a paralisar e/ou descredibilizar a investigação.
Sem sucesso, ao que tudo leva a crer.
Porém, o grave é que, a confirmar-se essa informação, as estruturas da administração pública responsáveis pela situação da aposentação daqueles permaneça inerte.
Há que extrair daí conclusões e instaurar os respectivos procedimentos disciplinares e criminais a todos os envolvidos em tais actividades, com todas as consequências.
Dizia-se que tais indivíduos seriam "ex-militares da DINFO e ex-agentes e inspectores da PJ".
Eu cá tenho outro nome: BANDIDOS.

Máximas esquecidas

«Fui sempre jornalista e não sonho com nenhuma outra actividade, mas não acredito que a liberdade de informação seja uma liberdade absoluta».

Christine Ockrent

20061208

Aviso à navegação

«o prazer é o bem primeiro, inerente à natureza do homem, do qual partimos para toda a eleição ... mas nem todo o prazer é elegível».

Epicuro, Carta a Meneceo

20061207

Boicote activo da Verdade sobre os direitos humanos

Hoje, o presidente da A.R. não disponibilizou a sala do «Senado» para um Colóquio entre parlamentares europeus da Comissão que investiga os voos da CIA e parlamentares nacionais.
Pretexto: não havia solicitação «atempada».

Convenhamos. Para um País que se diz querer ser um Estado de Direito, a rábula é de jaez muito rasca e tacanho (bastou ouvir um osvaldo castro a justificar o injustificável).

Se não há nada a esconder, porquê dificultar a tarefa do Parlamento Europeu?
Se há algo a esconder, por que não se assumem irregularidades (ou mesmo factos ilícitos)?

Até os americanos já perceberam que os caminhos da war on/of terror não deram bons resultados (o relatório Baker parece vir - extemporaneamente, é certo - pôr um pouco de bom senso e seriedade no que se refere aos desmandos belicistas e violadores dos direitos humanos da administração neocon bushista).

É por isso que nos envergonha a atitude desta maioria parlamentar, que boicotou objectivamente um encontro de trabalho da maior seriedade entre membros do P.E. e da A.R.

20061205

Ainda o «procurador especial»

O folhetim do «procurador especial» está a atingir limites de mau gosto, ou mesmo de «ópera bufa», com as declarações de Marques Mendes a sugerir uma excepção retroactiva - quanto ao prazo da prescrição do procedimento criminal - para a admissibilidade do julgamento de Camarate.
Não tenho qualquer partis pris quanto ao assunto. Há até um actual presidente de Câmara do PSD que pode ter uma palavra a dizer no caso. E talvez houvesse mesmo surpresas interessantes.
Certo, certo, é que iria pôr em causa toda a coerência sistémico-dogmática do nosso ordenamento jurídico e judiciário.
Julgo até que, perante um mais que provável desfecho de absolvição, a proposta seria altamente lesiva das finalidades anunciadas, ao permitir o "branqueamento" dos imputados e, eventualmente, ao enfraquecer a tese do atentado.
Estranha-se é que das bandas do Palácio Palmela persista um ensurdecedor silêncio.

20061204

Salman Rushdie

disse que «Deus foi o maior erro da Humanidade».

Esse foi o maior erro de Salman Rushdie.

20061202

Bem me parecia...

... que a tão propalada «sã convivência» entre as tendências e facções libanesas não era mais do que propaganda ou ingenuidade.

O Hezbollah saiu à rua, para exigir a demissão do governo de que fez parte.
Quer dizer, ou os vizinhos sírios e iranianos estão decididos a avançar de vez e fazer cheque a Israel ou haverá outra guerra civil nas barbas da ONU.

Entre as duas opções, venha o diabo e escolha.

20061129

Bem vistas as coisas...

... a peregrina ideia de criar o "procurador especial privativo da A.R." (ou lá o que seja) não é mais do que a «garantia administrativa» (do Estado Novo; quem se lembra?) invertida.

José Esteves, o autêntico (não confundir com o "estebes")


José Esteves, explica, finalmente, na Focus de hoje (29/11/2006), qual a composição do «engenho explosivo que provocou o atentado» a Francisco Sá Carneiro, Amaro da Costa e acompanhantes.
«Foi» assim: «...Agora, se pegar no cloreto de potássio, misturado com açúcar e juntar o ácido sulfúrico e acrescentar ainda piri-piri em pó, isso é o suficiente para provocar uma grande confusão dentro do avião».

Deve ser com provas destas que o "Procurador especial (da A.R.)» vai sustentar "a sua acusação" em julgamentos.

Eu também acho que Camarate é um assunto sério.

20061128

Flexisegurança

Dava-se conta, na comunicação social de hoje, que o governo parece «fascinado» por implementar o esquema «flexisegurança», vigente - ao que se crê com bons resultados - nos países nórdicos.
Contra a flexibilização dos despedimentos, do abaixamento de salários, da redução de horário, os trabalhadores aceitariam maiores indemnizações, melhores condições de formação profissional, blá, blá, blá...

E eu que pensava que o «Estado social» tinha falido...

«Derrapagens»

Parece que o «novo aeroporto da Ota» est(ar)á atrasado cinco - anos - cinco.
Por isso, vai custar mais uns milhões de Euros. Penso que a todos nós.
Para além do disparate financeiro, estratégico e, porventura, ambiental, o governo tem de dar explicações sobre o que se passa.
O rigor e a exigência são só para alguns, sr. eng.º pinto de sousa?

IVG II

«...A questão dos prazos não se reveste, em boa verdade, de qualquer relevância ética. Doze, dezasseis, vinte e duas ou vinte e quatro semanas como limite para a intervenção abortiva, que significado têm, no ponto de vista ético?
Nenhum. De facto, a decisão de eliminar a vida humana intra-uterina é que é eticamente séria e constitui a questão de fundo...».

Parecer do CNECV de 10/02/1997

Há muito a aprender na doutrina do CNECV (Conselho Nacional da Ética para as Ciências da Vida).

20061126

Posto móvel

Vou correr o risco de parecer xenófobo, mas aqui vai:

A comunidade chinesa (?) do Parque industrial (?) de Varziela - Vila do Conde veio exigir a instalação de um posto móvel da GNR, na sequência de um assalto a um dos armazéns de quinquilharia ali existentes. Os cidadãos chineses no País sentem-se inseguros. Não eles, os seus bens, mais propriamente.
Em seu tempo, os empresários portugueses e de outros países (a trabalhar em Portugal) também passaram pelo mesmo. E tiveram que se socorrer de segurança privada (sector em franca expansão, aliás). Que remédio!...
Os «empresários chineses» preferem ter por lá um "posto móvel" da GNR. Afinal, é dissuasor, oficial e barato, pois então. Sempre será mais uma ajuda gratuita. E, com grande probabilidade vão conseguir o que muitas comunidades de cidadãos tanto ambicionam e não conseguem: a simples protecção das suas próprias pessoas, em tantas zonas negras da criminalidade, da toxicodependência e da sinistralidade.
Que mil postos móveis (da GNR) floresçam!

20061124

O estranho caso do «procurador especial»

Surgiu a insólita revelação que uns deputados da maioria (ps) tinham proposto a figura de um «procurador especial».
Já que não pode haver «tribunais especiais» haveria, ao menos, um «procurador especial».

Mais de perto:
Essa figura - compatível com o proverbial e eugénico instituto do "jurista idóneo e de mérito" - teria a salvífica intervenção na sequência de inquéritos parlamentares cuja deliberação de existência de «indícios de crime» não ousasse convencer o Ministério Público a exercer a acção penal (deduzindo a acusação).
Interviria, assim, numa fase em que, goradas as tentativas normais através do sistema judiciário, se "tornasse imperioso" o exercício da acção penal e a representação em juízo de uma putativa acusação.
Tudo muito asséptico. Mas sem explicar o essencial: o como, o quando, o quem, com que meios, a harmonização com o princípio da separação de poderes, etc., enfim, "coisas menores".

Até aqui tudo bem. Como dizia Montaigne, qualquer idiota pode propor e fazer leis.

O grave é que o ministro da justiça tenha vindo, precipitada e irresponsavelmente, admitir a ideia.
Isso é que é grave. Foi mesmo o ministro da justiça?

Haiku

Brande
os brandos
costumes

Porque será...

...que, num momento em que o ministro libanês Pierre Gemayel foi assassinado cobardemente pelo eixo Irão-Síria(-Hezbollah), a única referência que o 1.º ministro pinto de sousa faz sobre militares (portugueses) é para os ameaçar de «procedimentos disciplinares»?

Será inconveniente lembrar que há portugueses naquelas bandas?

20061123

homo oeconomicus

Eu, que nada sei
de contabilidade e concorrência,
nem de processos de convergência

eu, mero basbaque,
que a esmo pasmo
ao saber do entusiasmo
nos futuros do nasdaq.

eu, que simplesmente ignoro
as tendências do mercado,
mas ouço sempre calado
o seu anúncio sonoro

eu, que nunca aprendi
os factores, juros e rácios,
os razões e os diários
e os valores mobiliários

confesso que sobrevivi
quer de noite, quer de dia,
sem saber patavina
dessa nobre disciplina
que se chama economia.

20061122

Hai ku

Larvar
o lavrar
do lar.

20061121

Pensava eu...

Quando se investigam (criminalmente) infracções decorrentes de práticas bancárias, é suposto que um 1.º ministro - ou um governo -, se preocupasse(m) com a eventual fraude (nas receitas fiscais) em que essas práticas consistem.
Afinal, parece que estão preocupados com que a «imagem da Banca» não seja afectada com essas investigações.
Palavra que pensava que com isso se preocupavam os Conselhos de Administração e as Auditorias internas.
Pensava eu...

20061120

Por este andar...

No dia 14 de Novembro de 2006, o PGR só tinha previsto na agenda uma audiência com o Dr. Garcia Pereira, ao cair da tarde.
Parece que, afinal, teve um outro encontro nesse dia, com o 1.º e outros ministros, a fim de «falarem» sobre a «Operação furacão».
Porque será que só pelo fim de semana alguns jornais noticaram a reunião?

Em primeiro lugar, tratando-se de uma vulgar reunião de trabalho, o caso nem é notícia (apesar de dever constar da agenda do PGR, por uma questão de coerência e transparência).
Mas, em segundo lugar, segundo creio, a «Operação Furacão» já se inciou por alturas de Outubro de 2005.
Durante um ano, o mesmo governo - agora presuntivamente preocupado com "a imagem da Banca" - poderia ter falado com o anterior PGR. Tê-lo-à feito?

Não sabemos. O anterior não divulgava a agenda...

Extractos

«...
5. Quantas pessoas deveria mencionar aqui! Provavelmente o Senhor Deus chamou a Si a maior parte quanto aos que ainda estão deste lado, as palavras deste testamento os recordem, a todos e em toda a parte, onde quer que se encontrem. Durante os mais de vinte anos em que desempenho o serviço Petrino "in medio Ecclesiae" experimentei a benévola e muito fecunda colaboração de tantos Cardeais, Arcebispos e Bispos, tantos sacerdotes, tantas pessoas consagradas Irmãos e Irmãs por fim, de tantíssimas pessoas leigas, no ambiente da Cúria, no Vicariato da Diocese de Roma, e também fora destes ambientes. Como não abraçar com a memória agradecida todos os Episcopados no mundo, com os quais me encontrei no suceder-se das visitas "ad limina Apostolorum"!
Como não recordar também tantos Irmãos cristãos não católicos! E o rabino de Roma e tantos representantes das religiões não cristas! E quantos representantes do mundo da cultura, da ciência, da política, dos meios de comunicação social!

6. À medida que se aproxima o limite da minha vida terrena volto com a memória ao início, aos meus Pais, ao Irmão e à Irmã (que não conheci, porque morreu antes do meu nascimento), à paróquia de Wadowice, onde fui baptizado, àquela cidade da minha juventude, aos coetâneos, companheiras e companheiros da escola elementar, do ginásio, da universidade, até aos tempos da ocupação, quando trabalhei como operário, e depois na paróquia de Niegowic, na paróquia de São Floriano em Cracóvia, à pastoral dos académicos, ao ambiente... a todos os ambientes... a Cracóvia e a Roma... às pessoas que de modo especial me foram confiadas pelo Senhor. A todos desejo dizer uma só coisa: "Deus vos recompense".
"In manus Tuas, Domine, commendo spiritum meum".
A.D. 17.III.2000 »

Do Testamento de João Paulo II

20061118

Hai ku

Há vida
ávida
de vida

20061112

S. Martinho

Ah! É verdade, hoje é dia de S. Martinho.
Por sinal, uma edificante história.


























Manuel Amado

20061111

Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam
como estas árvores que gritam
em bebedeiras de azuleles
não sabem que sonho
é vinho, é espuma, é fermento
bichinho alacre e sedento
de focinho pontiagudo
que fuça através de tudo
em perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela é cor é pincel,
base, fuste ou capitel,
arco em ogiva, vitral.
Pináculo de catedral
contraponto, sinfonia, máscara grega, magia
que é retorta de alquimista
mapa do mundo distante
Rosa dos Ventos, Infante,
caravela quinhentista
que é cabo da Boa-Esperança.
Ouro, canela, marfim
florete de espadachim
bastidor, passo de dança
Columbina e Arlequim
passarola voadora
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva
alto-forno, geradora
cisão do átomo, radar
ultra-som, televisão
desembarque em foguetão
na superfície lunar
Eles não sabem nem sonham
que o sonho comanda a vida
e que sempre que o homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos duma criança.

A. Gedeão

Bem haja, Kamikaze (pela referência imerecida).

Kamikaze, do www.incursoes.blogspot.com, fez a fineza de referir naquele blog, este esconderijo blogosférico de reflexões mais ou menos assistemáticas, mais ou menos inconsequentes (onde se «fala» com um leitor, rectius, com uma "mão cheia deles").
Ficamos sensibilizados e desvanecidos com tal menção. Certamente imerecida.
Quanto ao debate sobre o anonimato na blogosfera, não vou, para já, entrar nele.
Direi, apenas, haver razões para, num tal ambiente, o anonimato ter uma justificação (ou justificações). Já que um dos seus traços distintivos é, precisamente, a admissão do anonimato e a falta ou impossibilidade de (hetero)regulação é uma fatalidade.
Nesse aspecto, apesar de assumir a minha condição de anónimo (com nick, vá), julgo que é tudo uma questão de bem senso e de bom gosto. É favor ler o primeiro post deste humilde blog.

20061110

Amanhã, os nossos dias...

...serão melhores?

Depois da derrota de Bush nas legislativas dos EUA (para a Câmara dos Representantes e Senado), com a vitória dos Democratas, uma euforia festiva acometeu certos sectores do pensamento «politicamente correcto».
Pensam que tudo vai mudar, com o afastamento de Rumsfeld e com o «cartão vermelho» do «povo americano» (que reapareceu, como que por artes mágicas) às políticas de George W. Bush.

Saberão que, a despeito de o Mundo estar mais inseguro depois do 11/9, os EUA estão, de facto, mais seguros?

Bom...esta conversa deve ser continuada dentro de um ano.

20061106

O destino dos (ex) ditadores

Um problema de crucial - e actualíssima - importância, no cenário das relações internacionais contemporâneas, é o destino dos ditadores caídos em desgraça.
Recentemente, pouco antes de morrer, Milosevic estava a um passo de ser condenado por crimes contra a humanidade pelo Tribunal Penal Internacional (da ONU) para a ex-Jugoslávia (de Haia).
O ex-ditador Pinochet foi sujeito a prisão domiciliária pela Justiça chilena, para, finalmente, se apurar a sua responsabilidade em crimes contra a humanidade (a propósito de assassinatos a seu mando directo).
Ontem, Saddam Hussein foi condenado a pena de morte (por enforcamento) por um tribunal iraquiano (?), por crimes contra a humanidade cometidos sob o seu regime e mediante ordens suas (massacre de 148 civis em Dujail, após uma tentativa de assassinato).

São dois modelos possíveis. Um - o da «Justiça internacional» -, parece oferecer, inegavelmente, maiores garantias de imparcialidade e de isenção do que o outro.
O que não evita é que seja sempre uma justiça de vencedores. E que continue a haver (ex) ditadores subtraídos a tais "incómodos". E que, enquanto se mantêm no poder, continuem impunes os seus crimes.

Eis uma boa questão para o debate sobre a Justiça penal internacional. Que nos deve interessar a todos.

Demasiadas contra-informações?

O Procurador-geral da República disse, na China, que os métodos especiais de investigação da corrupção deviam contemplar intensamente as escutas telefónicas.

O Director nacional da PJ afirmou que as escutas telefónicas se deviam reduzir e pautar por critérios muito exigentes (acrescentando, estranhamente, que não sabia quantas escutas havia em Portugal; e eu - hélas - que pensava que ele era justamente uma das poucas pessoas que poderia saber isso com fiabilidade!).

O relatório da IGJ e da IGAI disse que no incidente do «sequestrador de Setúbal» não houve qualquer problema de articulação entre a PJ e a PSP e que a acção correra com «cordialidade».

O Director nacional da PJ disse que nesse incidente tinha havido «problemas de articulação».

É impressão minha ou pode não haver qualquer contradição nestas (contr)afirmações?

20061103

Equador ou Sol a mais ?

MST disse que ia resolver a questão da acusação anónima de plágio (parcial) do seu best seller «em tribunal e à paulada».
Confesso que fiquei sem saber por onde ia começar.
Parece que foi pelo tribunal, no que respeita à queixa por «violação de direito moral de autor» (?). Talvez por ser(em) desconhecido(s) o(s) agente(s).
Deve seguir-se a «paulada». E depois, outra vez o tribunal, não?
Isto p´ra quem disse que «já não acreditava na justiça», não está nada mal!

20061031

Lixo ocidental

Estava o Ocidente posto em sossego, nos finais do séc. XX, à espera de poder gozar tranquilamente os "direitos de 3.ª geração", de se dedicar à defesa do ambiente e das espécies em vias de extinção, quando, subitamente (ou nem por isso), se vê confrontado com a concorrência chinesa, com os novos perigos nucleares e com o cerco muçulmano.
Fernando Gil definiu, superiormente, a situação actual como um confronto, não entre civilizações, mas entre dois niilismos: o niilismo do conforto e o niilismo do martírio.

Outubro de 2006: 147 soldados americanos mortos no Iraque (o número mais alto de baixas mensais mortais após o Vietname), sem falar em feridos e estropiados.
Mas são mais, incomparavelmente mais, os mortos do «outro lado»: inocentes ou não.
Como sair do atoleiro?

20061030

Ele há coisas mais inquietantes, lá isso há...

277 veículos incendiados nas periferias urbanas de França, em três noites.

Há que fomentar a indústria automóvel gaulesa, pois claro!

20061029

Reeleição

De Kim Jong Il, com 97% dos votos expressos, perdão, de josé pinto sousa, como secretário geral do partido socialista.
É que este unanimismo significa qualquer coisa...

20061025

Tens p´ra troca?

Francisco Teixeira da Mota comentou no Público de dia 22/10/2006 um acórdão - creio que da Relação de Coimbra - em que os juízes desembargadores confirmaram uma sentença de 1.ª instância que condenara um cidadão por crime(s) de injúria (?), por ter dito a agentes da GNR em funções qualquer coisa como «Vocês são uns cromos!».
Parece que o articulista se indignou com o critério dos Tribunais e terminou o seu escrito a chamar «cromos» aos desembargadores.
É caso para perguntar: vale tudo?
Quando há, ao que parece, um genuíno esforço no sentido da educação para a cidadania, e perante uma situação em que não era sugerida qualquer violência ou abuso policial, será que queremos ver os agentes que presuntivamente devem velar pela nossa segurança, ser carinhosamente apodados de «cromos»?
É que a expressão «cromo», embora dependendo do seu contexto, raramente significará elogio, admiração ou dignificação.
Eu até acho que o Francisco Mota não é um cromo. Mas, desta vez, não tenho bem a certeza...

20061024

Porque será (?)

Que a tomada de posse (hoje, 24/10/2006, pelas 15H00) do juiz conselheiro Noronha do Nascimento, como Presidente do STJ, não está a despertar interesse à nossa nomenclatura e aos nossos media?

20061023

Nunca percebi

Porque é que no estrangeiro não se deve falar de política «interna nacional».

Pensava que não se devia era falar de política interna do País visitado.

20061019

IVG

Clínica dos Arcos.
Agora num franchising perto de si.

Eu sempre disse que era um bom nicho de mercado.

Corporati(vi)smo(s)

Anda tudo muito empertigado contra as «derivas corporativas» e contra os sindicatos. Em boa verdade, parece que todos foram acometidos por uma anti-sindicalite primária. Muitos deles ex-sindicalistas, note-se. Muitos mais, ainda, responsáveis políticos que apoiaram e fomentaram sindicatos, e que por estes foram robustamente apoiados.
Isto é tanto mais curioso quando, na semana passada, houve a maior manifestação dos últimos dez anos, organizada por uma confederação sindical.
Afinal, dizer-se que o Estado foi "capturado pelas corporações" (p. ex. discursos do eng. josé pinto sousa, do dr. alberto costa, do prof. vital, do dr. correia de campos e outros), ou seja, por magistrados, militares, funcionários públicos ou professores, é «cuspir na sopa», porque esse «estado de coisas», se é que alguma vez existiu, foi justamente criado por essa gente.

Eu cá, prefiro um sindicato ou uma corporação bem transparentes a um lobby opaco de interesses obscuros.

20061018

+ uma promessa eleitoral cumprida

Um ministro do Governo do eng.º josé pinto de sousa acabou de anunciar que vai cumprir mais uma das suas promessas eleitorais:
- instituir portagens em três Scut´s do Grande Porto.

Terei ouvido bem?

Um secretário de Estado (creio que da energia) veio dizer qualquer coisa como: a electricidade vai aumentar 16% «por culpa dos consumidores» (uma vez que a ERSE não podia autorizar aumentos superiores aos da inflação, impedimento que deixou de vigorar). Mas, simultaneamente, foi dizendo que as empresas «por estarem no mercado, precisavam de factores de competitividade» e, por isso, o aumento não as afectaria.
Não compreendo bem é por que razão o Estado tem de continuar a subsidiar as empresas e não autorizou o aumento real das tarifas, durante anos, vindo agora clamar contra a «culpa dos consumidores».
A vergonhosa verdade é que instituiram um pretenso mercado ibérico de energia eléctrica (estás a ouvir ó Pina de Moura??) para funcionar só para alguns. Isto é, liberalizaram o mercado para, supostamente, haver concorrência e baixarem os preços.

Mas, se isso não acontecer, deve ser culpa dos consumidores.

20061016

É claro que há coisas mais preocupantes

Uma funcionária cristã da British Airways foi suspensa, depois de se recusar a retirar uma pequena cruz suspensa de um fio, ao pescoço. A empresa alega que violou as normas da companhia, que permitem aos muçulmanos e sikhs usar símbolos da sua religião, como o véu, os turbantes e as adagas. Só os cristãos estão proibidos de usar símbolos religiosos.

Farmacêutico muçulmano, em Inglaterra, recusou-se a vender a “pílula do dia seguinte” a uma mãe de dois filhos, de 37 anos de idade, por razões de carácter religioso.

Líderes muçulmanos querem alterar a data dos Jogos Olímpicos de 2012, a realizar em Londres, devido ao facto de o calendário dos jogos coincidir com o Ramadão, época em que os muçulmanos praticam o jejum.

Polícia britânico foi dispensado de prestar serviço na segurança da Embaixada de Israel. O polícia, muçulmano e de origem libanesa, terá manifestado aos seus superiores receio pela segurança de familiares no Líbano, caso fosse prestar serviço na Embaixada de Israel.

Rainha de Inglaterra instalou uma sala de orações para um elemento muçulmano do seu staff, no
Castelo de Windsor.

Empresa planeia “hospital muçulmano”, na Holanda. O hospital terá zonas distintas para homens e mulheres, com médicos e enfermeiros exclusivamente do mesmo sexo.

Gangs islâmicos aumentam na zona Sul de Londres.

Motoristas de táxi muçulmanos de Minneapolis, nos EUA, recusam transportar passageiros que levam consigo garrafas de vinho ou outras bebidas alcoólicas, alegando razões religiosas.Transexuais também são vítimas de discriminação pelos mesmos motoristas muçulmanos.

Estudante agredida à pedrada por não respeitar o Ramadão, numa escola francesa.
Abdul Rasheed Majekodumni, motorista de táxi em Londres, recusou transportar uma inglesa cega, que se fazia acompanhar pelo seu cão-guia. O motorista, muçulmano, alegou razões religiosas para o fazer. O Islão proíbe todo o contacto com cães, que considera animais impuros.

Cidade italiana planeia criar praia exclusivamente reservada a mulheres muçulmanas.

Extraído do Máquina Zero

20061009

Souto Moura

Souto Moura


Souto de Moura abandona o cargo de Procurador-geral da República.
Ele é, porventura, o caso mais paradigmático do assassinato de carácter de uma pessoa que, apesar de não estar imune à crítica, foi mais injustamente (mal)tratado e vilipendiado por fazedores de opinião de jornais falidos e por comentadores de covil , mas, também, por titulares de cargos públicos com responsabilidades, nomeadamente na área da Justiça.

Seis anos de mandato, fizeram-no ir do estado de graça à “desgraça do Estado”.
Acusado das “piores tropelias”, de ser o principal responsável pelo estado da justiça, a sua «verdadeira» falha foi a de ter levado a um nível insuportável (para alguns que se julgam acima da lei) o princípio da igualdade dos cidadãos perante a lei.

Estará por fazer o balanço da sua actividade e do seu mandato.
O exemplo de estoicidade e de verticalidade que demonstrou, arrostando com insinuações torpes, insultos soezes, processos de intenção, críticas boçais e ignorantes e alarvidades inconsistentes, será lembrado no futuro.
A História – estou certo disso – virá fazer-lhe justiça.

Terá havido, sem dúvida, aspectos passíveis de ser melhorados na estrutura e funcionamento do Ministério Público, sob a sua direcção. Todavia, não foi por nenhuma dessas razões que foi ostracizado.
A verdadeira razão pela qual foi objecto da mais insidiosa campanha de desacreditação pessoal e institucional de que há memória foi a de não ter sido permeável a pressões, em certo momento decisivo de determinado processo mediático.

Pode dizer-se que, pelo menos – o que já não foi pouco –, Souto Moura teve o mérito, o grande mérito, o inesquecível mérito de ser incómodo.
Não por vontade própria, mas por ter interpretado correctamente a Lei e os princípios do Estado de Direito.

Como se viu, pagou muito caro essa ousadia.

Por tudo isso, Bem haja, Senhor Dr. Souto Moura.

20061007

República e Corrupção

O dia 5 de Outubro de 2006 assistiu ao lançamento do novo tema coqueluche, a «corrupção».
O seu autor: o Presidente da República.
Logo a Dra. Maria José Morgado veio aderir ao repto, afirmando mesmo que, finalmente, o tema da corrupção não é mais um tema lateral, é um tema de Estado.

E eu que me lembro que esta senhora já teve especiais responsabilidades na investigação criminal nessa área e os resultados foram os que foram...

E eu que me lembro que o mesmo Presidente, quando era 1.º ministro, perante a acusação do então Procurador-geral Adjunto Rodrigues Maximiano, de que havia «...condições que favoreciam objectivamente o surgimento da corrupção», se limitou a dizer «Portugal não é um país de corruptos!».

20060929

O assentar da poeira da "rua árabe"

A «rua árabe» (eu até gosto da designação) tem destas coisas: fica enfurecida quando a manipulam com mistificações e, depois, desaparece, volatiliza-se.
Vem isto a propósito da auto-censura imposta pela encenadora da ópera Idomeneo de Mozart, na Alemanha, para não pretextar nova fúria islâmica a uma cena em que são apresentadas as cabeças decapitadas de Jesus, Maomé, Buda e Poseidon.
Não consta que os cavalheiros que sempre aparecem a pregar contra a «perseguição a Islão» tenham mexido um dedo. Só alguns intelectuais, a chanceler da Alemanha e poucos mais consideraram isso uma cedência à chantagem e ao terror.

Definitivamente, os terroristas nem têm que se aplicar muito. Basta contar com a dhimmi atitude europeia.

20060927

O que é que querem?

Gostava de falar:

- dos planos altruístas do governo para pôr os funcionários públicos a progredir em termos de carreira e remuneratórios;
- da entrada de josé sócrates carvalho na campanha bolivariana presidencial de hugo chavez;
- da OPA da Sonae sobre a PT;
- da descida de Portugal em três lugares no ranking da competitividade (do forum Davos) por causa do sector público;
- da «liberalização» das farmácias e dos fármacos;
- da excelência e exemplaridade dos órgãos de gestão do futebol português e desse «grande» "major"(?),
- da inesperada reacção dos reclusos à troca de seringas nas prisões (pensavam eles que o Estado, afinal, os queria curar da toxicodependência),

mas prefiro um bom circo, o que é que querem?...

20060921

Os povos querem pão, sapatos e ferro

«Os povos querem pão, sapatos e ferro.
Não querem leis. Das leis não nascem os lírios do campo».

Carlos Drummond de Andrade

20060916

Discussão bizantina

O imperador Manuel paleólogo II de Bizâncio não faria ideia das consequência das suas palavras (seriam mesmo essas?) na rua árabe.
Bento XVI só lembrou o que ele terá escrito quanto à jihad e às aquisições dos ensinamentos de Maomé. Que a jihad é a imposição da fé pela espada, lá isso é.
Agora, o Vaticano vem dizer que o Papa só quis lembrar aos ocidentais quão mau é o escárneo para com o divino.
Pior a emenda que o soneto?

20060912

Mau demais para ser verdade...

Em declarações à Antena Um, no dia em que se assinalam cinco anos sobre os atentados terroristas em Nova Iorque, Jorge Sampaio, refere que «para se atingir a paz não há outra solução senão falar com os inimigos».

O que propõe, dr. Sampaio?

Discutir os limites do tributo que os "infiéis" deverão pagar ao califado para continuar a viver?
Pedir licença ao sr. bin laden para ter a especial deferência de não atacar os "infiéis" da Oumma quando vivam nos países onde nasceram?
Implorar-lhe(s) que não deitem nenhuma bomba suja ou nuclear, a não ser em Israel?

O senhor não deve ter percebido bem do que se trata. O que é estranho, para mais tratando-se de uma pessoa com as suas responsabilidades (pretéritas e presentes).

Até parece que isto é apanágio dos ex-presidentes da República de Portugal: o dr. Soares já advoga o diálogo com os terroristas no «prós e contras».

Esta gente não tem emenda.
Será que pensam mesmo que os agora eufemisticamente chamados «inimigos» terroristas querem negociar alguma coisa?

20060911

Homenagem


Apesar de alguns teimarem em desculpar o terror e a barbárie, hoje (e sempre) devemos uma saudação e homenagem a todos os caídos nesta Era de terror (desde há cinco anos). Caídos nos EUA ou no Iraque, no Afeganistão ou no Reino Unido, na Indonésia ou em Espanha, em Marrocos ou na Rússia, na Índia ou no Líbano, na Jordânia ou no Egipsto, em Israel ou na Palestina.

Um pensamento de pesar para quem só queria aprender em Paz, negociar em Paz, rezar em Paz, numa palavra, Viver em Paz.

Hoje é 11 de Setembro.

20060909

Ahmed Shah Massoud


O comandante Massoud foi a 1.ª vítima do 11 de Setembro.
Assassinado em 9 de Setembro de 2001 por dois matadores da al-qaeda (que se fizeram passar por jornalistas), a sua morte foi o detonador de todas as operações subsequentes da nova era do terrorismo jihadista, ou melhor, da guerra declarada ao Ocidente.
É justo que tal se reconheça e se faça uma homenagem ao homem que dedicou a sua vida a contribuir para um mundo mais livre e mais justo.

Darfur: onde é que isso fica?

Darfur:
- milhões de deslocados internos;
- 200 mil refugiados que vivem em 12 campos administrados pelo Alto Comissariado da ONU;
- 200 mil pessoas morreram desde 2003 e dois milhões de pessoas foram forçadas a abandonar as suas povoações e a alojar-se em campos de refugiados no Sudão e no Chade, no que, segundo a ONU, constitui um dos piores desastres humanitários deste século.

Não consta que os responsáveis deste genocídio sejam Israel ou os EUA ou qualquer país ocidental. É gente armada pelos «amigos da jihad». É parte da estratégia de domínio islamista global. Pelo fogo e pelo sabre.

E depois ainda têm a lata de falar em «double standards»...

20060906

Ana Gomes, essa iluminada

A diplomata de carreira e eurodeputada Ana Gomes divulgou alto e bom som as supostas matrículas de um avião que disse ser da CIA e fazer o transporte de suspeitos de terrorismo.
Esta senhora tem-se prestado a papéis degradantes, sob o falso pretexto de defender os direitos humanos.
Embora sejam discutíveis os meios usados pelos EUA no combate ao terrorismo, averdade é que esse é um problema global, não exclusivo dos americanos. A suposta violação da soberania dos Estados é largamente compensada com o aumento da eficácia da segurança relativamente aos planos do terror islâmico e de outra natureza.
Defintivamente, os terroristas devem estar-lhe muitos gratos. Ao menos estes não só também não pedem licença a ninguém para sobrevoar o seu espaço aéreo como, quando o fazem, é com consequências muito diferentes.

20060905

Uma divisa: "Tolerãncia sem submissão"

O Multiculturalismo degenerou em caldo de cultura de reverência e vénia às afirmações despudoradas e arrogantes dos novos dogmas do relativismo (civilizacional, religioso, económico e cultural).
Perante um Islão (arrogante) devemos ser dialogantes?
Como dialogar com indivíduos cujo processo educativo, cívico e religioso é caracterizado pelo discurso do ódio? O multiculturalismo não responde - não pode responder - a isso.
Face às manifestações da diferença, devemos demonstrar abertura: diversidade é riqueza.
Face a atitudes de arrogância e suposta superioridade moral, étnica ou religiosa, devemos ser tolerantes sem subserviência: compreender criticamente.
Perante o terror (ainda que invocando o Islão), acham que devemos dar a outra face?

20060831

31 de Agosto é hoje

Kofi Annan insistiu para que Israel levantasse o bloqueio ao Líbano, hipótese não imediatamente acatada, por se temer que os terroristas libaneses-sírios-iranianos retomem as iniciativas de agressão.
Por falar em «pedidos» da ONU, não era hoje a dead line para o Irão se pronunciar sobre o ultimatum do CS da mesma ONU sobre o projecto nuclear?

20060830

Naguib Mahfouz




Morreu Naguib Mahfouz, o escritor universalista egípcio (único escritor da mundo árabe premiado com o Nobel da literatura em 1988), que ousou debater o secularismo numa sociedade infiltrada pelos fanáticos da Irmandade muçulmana, que assassinou Sadat.

Também ele sofreu na pele as consequências da denúncia de um retrocesso civilizacional e religioso (mesmo dentro do Islão).
Tentaram também matá-lo, sobrevivendo penosamente, sem poder escrever.

Paz à sua alma, Inch´allah.

20060828

Nasrallah

O líder do partido de deus (hezbollah) veio admitir, qual «cordeiro a chorar lágrimas de crocodilo», que se tivesse antevisto a reacção de Israel, não teria mandado sequestrar os dois soldados israelitas, prometendo que nunca mais haverá um confronto entre o hezbolah e Israel.
Bom, parece que se avizinha algo mais trágico. O confronto será, agora, directamente com o Irão? Irão e Síria vão assumir a sua estratégia sem mais intermediários?

A propósito, porque é que a rapaziada do hezbolah distribui maços de notas frescas de dólares às vítimas (chiitas) da guerra no Líbano? Não é o dinheiro do «grande satã»?

20060827

Liga segundo Mateus

Diziam que era em Itália que havia um «CalcioCaos», não era?
Ora limpem-se à nossa «justiça portuguesa».
Começo a pensar que o problema é dos actores, e não do guião. Os tipos que compõem esses órgãos por acaso também são magistrados profissionais (bastantes, pelo menos).
Percebe-se por que é que a outra justiça também anda pelas ruas da amargura...

20060826

Matéria científico-eleitoral

Eu, que pensava que a matéria científica não fosse sujeita a escrutínio eleitoral, enganei-me. De braço no ar, os astrónomos e astrofísicos presentes num qualquer Congresso, deliberaram que, afinal, Plutão não é mais um planeta do sistema solar.
Pluto passará a ser apenas o nome do simpático cãozinho da Disney.

20060825

Água pesada

O Irão inaugurou uma nova fábrica de «água pesada».
Só pode ser para se evaporar mais devagar...

20060821

Armeggedon soon

In Islam, as in Judaism and Christianity, there are certain beliefs concerning the cosmic struggle at the end of time — Gog and Magog, anti-Christ, Armageddon, and for Shiite Muslims, the long awaited return of the Hidden Imam, ending in the final victory of the forces of good over evil, however these may be defined. Mr. Ahmadinejad and his followers clearly believe that this time is now, and that the terminal struggle has already begun and is indeed well advanced. It may even have a date, indicated by several references by the Iranian president to giving his final answer to the U.S. about nuclear development by Aug. 22. This was at first reported as “by the end of August,” but Mr. Ahmadinejad’s statement was more precise.
What is the significance of Aug. 22? This year, Aug. 22 corresponds, in the Islamic calendar, to the 27th day of the month of Rajab of the year 1427. This, by tradition, is the night when many Muslims commemorate the night flight of the prophet Muhammad on the winged horse Buraq, first to “the farthest mosque,” usually identified with Jerusalem, and then to heaven and back (c.f., Koran XVII.1). This might well be deemed an appropriate date for the apocalyptic ending of Israel and if necessary of the world. It is far from certain that Mr. Ahmadinejad plans any such cataclysmic events precisely for Aug. 22. But it would be wise to bear the possibility in mind.

Bernard Lewis (Wall Street Journal)

Never mind...

20060816

O «partido de que deus»?

A propósito do que muitas vozes (e penas) do mainstream intecletual têm dito e escrito sobre o confronto de Israel com o Hezbollah libanês, apenas me ocorre dizer isto: o que se passa é que esse partido não só quer efectivamente destruir Israel - cumprindo um objectivo estratégico do Irão e da Síria - como já destruiu outro Estado: o Líbano, visto por esses cavalheiros como mais um lugar do «grande Islão» e, por isso, negligenciáveis são as mortes de civis (que, de escudos humanos são, pressurosamente, volvidos em «mártires» da causa), como desprezíveis são as consequências, mesmo políticas, para o aparente processo democrático na antiga «Suiça do Médio Oriente», que o não voltará a ser.
Por isso, a facilidade com que a Síria retirou o seu exército do Líbano não era mais do que o início de toda esta esta trágica jogada.
Ignorar que é Israel que naquele cenário representa os nossos valores, só pode ser igenuidade, cegueira ou má fé.

20060731

Jihad


Mais uma vez, a propósito da ofensiva no Líbano, a al-qaeda reclamou as terras perdidas do al-gharb al-andalus...
Posso desejar Boas Férias?

20060725

III.ª Guerra Mundial?


O Líbano, um estado refém do mais organizado e temível fundamentalismo islâmico (o hezbollah), pode ser «Sarajevo do século XXI»? Tenho dúvidas, mas há observadores e analistas que o vêm crescentemente arriscando.
Por um lado, o envio de qualquer força multinacional - mesmo sem a participação do EUA - pode precipitar o envolvimento de mais beligerantes.
O não abrandamento das hostilidades e as declarações de intensificação do conflito dos dois lados fazem temer o pior cenário.
Impotentes, os europeus não sabem o que fazer.
Os EUA avalizam a iniciativa israelita, que vai tendo baixas talvez inimagináveis e fazendo «mártires de Al-Aqsa» a esmo.
O que é certo é que os contornos de uma guerra generalizada na área (e não só) serão bem mais feios e mais graves as suas consequências do que foram os das duas guerras mundiais do séc. XX.
Israel previu este cenário?

20060719

Subitamente (?), no Líbano

Não. Não estou nem fui de Férias. Motivos não têm faltado para postar.

Penso que, por estes dias, se justifica uma opinião sobre o que se passa entre Israel e o Líbano. Contrariando uma Resolução da ONU, o Hezbollah assumiu uma agenda própria, com o apoio logístico e doutrinal do Irão (e Síria) e não se desarmou. Classificado como «terrorista», este grupo adquiriu representatividade eleitoral e propõe-se, mesmo sem ocupar o poder, combater por todos os meios o Estado de Israel.
O assassinato (com impressão digital dos serviços secretos sírios) do ex-primeiro ministro Hariri foi apenas o primeiro passo na estratégia de desestabilização e terror do frágil poder do Líbano por parte do triângulo Irão-Síria-Hezbollah.
O Líbano paga agora, desafortunadamente, a sua «captura» por um grupo islamista do mais fundamentalista e anti-judaico que se concebe.
A Israel deve ser reconhecido o direito de se defender, mesmo fora das suas fronteiras.
Talvez só uma «ruptura» na lógica do tradicional «diálogo israelo-árabe» possa ter consequências mais defintivas.

20060710

O «sonho» acabou

Portugal despediu-se ingloriamente do Mundial 2006. Uma derrota (3-1) face à anfitriã Alemanha. Depois da derrota face à França, foi mau.
Mas, apesar de tudo, a selecção foi «mais longe» do que esperava(mos).
E concitou a nossa atenção e a nossa emoção durante um mês e tal.
Agora, regressamos à «crise», à «depressão», aos bloqueios e às maldições.
Isso é que é chato. O resto é bola...

20060704

Potugal-França: emoções «ao rubro»

Definitivamente, o que importa não é o desporto, futebol.
Já houve, até, quem apontasse uma origem desportiva do Estado, bem como uma função política simbólica do desporto.
Hoje, o que me parece prevalecer é o valor da emoção.
As pessoas estão carentes de emoções.
Nem que seja vestir uma camisola e um cachecol com as cores do País e gritar o nome salvífico e redentor do herói goleador (ou defensor, como parece ser mais o caso português).

20060702

Futebol, Selecção e Teoria das Probabilidades

Foi épico!
Não, não me rendi aos méritos da selecção de Portugal.
O que me parece é que os matemáticos terão de abordar novos modelos de probabilidades: falhar dois penalties, defender três e....ganhar???!
Que dizer mais?
PARABÉNS, pois então!

20060627

Serviços mínimos


"...Cristo é mouro da Cabaceira e tem a esgalgada
magreza de um velho cojá asceta.

Raça de escribas, mandai, julgai, prendei:
Só Alah é grande e Maomé o seu profeta".

Rui Knopfli, Mesquita Grande

20060625

Francisco José Viegas

Francisco José Viegas recebeu, merecidamente, o prémio da APE de 2005, com o seu romance policial Longe de Manaus.
O seu talento valerá € 15.000,00?

Em todo o caso, Parabéns, pela sua pessoa, pela sua atitude e pelo seu trabalho.

20060620

Retrocesso civilizacional

Num patibular painel de um qualquer programa de televisão para domésticas cujo principal protagonista é um tal Manuel (Luís?) Goucha, assistiu-se, no dia 19/06/2006, a um degradante espectáculo, digno de circo romano.
As «convidadas» do painel, quais representantes do mais esclarecido e idóneo que há em termos de vox populi, clamavam contra a excessiva brandura da justiça na punição da avó e pai de uma criança do Porto, pelos maus tratos e morte infligidos a esta (no ano transacto).
Que era preciso fazer-lhes, «pelo menos, o que eles fizeram à menina», «pô-los em água a ferver». Que nem se lhes podia chamar «pai» nem «avó». O «nosso lado sentimental diz-nos que lhes devíamos fazer o mesmo», concluíram em sintonia.

A triste boçalidade do espectáculo atingiu níveis de indigência intelectual.
Compreende-se a necessidade de atrair audiências, de conquistar «share». Mas, que diabo!Que o façam com o mínimo de decência e bom senso. Já nem se exige bom gosto nem pedagogia.
O atiçar do mau gosto, dos instintos mais baixos e mesquinhos das pessoas devia ter limites.
Recuso-me a acreditar que aquela seja a imagem (geral) de um País chamado Portugal.
Estarei enganado?

20060619

Alegre, as crónicas e as bandeiras

Manuel Alegre faz crónicas sobre o «mundial 2006», o tal multimilionário campeonato de futebol, em que um membro da comissão executiva da FIFA admitiu ter feito especulação nos bilhetes de ingresso para alguns jogos.
Alegre alegra-se pelos feitos gloriosos dos nossos valentes jogadores da «selecção das quinas». Ainda não o vi insurgir-se pelo facto de as bandeiras nacionais serem pasto de publicidade das mais diversas marcas.
Pudera, teria custos remar contra o unanimismo da futebolândia...
Não está mal, para quem queria ser Presidente da República!

20060618

Meta-morfoses



Metamorfoses, precisam-se.

20060616

A catarse necessária



Édipo, deChirico

Sim. Porque também se deve fazer a catarse, quando necessário...

20060615

Chiça, só se vive futebol!

Edipo, de Ingres.

Não há um tempinho para ir a um Museu? Ver um filme? Ir a um teatro?
Aproveitem...é um mês inteiro de sossego. Quase umas férias.
Viva o mundial 2006. Já deu para ver que deve haver "surpresas".
Bolas! Lá estou eu já a falar de futebol...

20060613

Marimbar-se para a posteridade


Francis Bacon.

Na vida dos artistas há sempre qualquer coisa que nos fascina. Para além da genialidade, podemos gostar da figura, da marginalidade, do comportamento, da extravagância.
Há tempos, um artista dizia vagamente que lhe é indiferente a posteridade. Quer é viver o presente o melhor possível, fazendo o que gosta e que os outros gostem do que faz.
É um bom (re)princípio. Como o do ex-Presidente, que teve um «regresso à cidadania o mais banal possível: meteu-se em bichas de automóveis de duas horas e foi comer ao MacDonald´s».
Talvez seja isso estar-se a marimbar para a posteridade.

Hermes e Creonte:Opacidade/transparência

"O jogo hipercomplexo onde se insere a produção da informação e a sua distribuição pelos actuais meios de comunicação de massas (imprensa, rádio, telvisão, Net) não pode deixar de ser visto como uma variável - uma variável importantíssima, de eleição até - das forças que se desenvolvem no campo da luta pelo poder.

"(...).os utentes da rede - e aqui utente, como bem se compreende, não é só o utilizador passivo mas também e indesmentivelmente o utilizador activo, o que aumenta ou contribui com informação alimentando, assim, a rede global - são, em tantos casos, pessoas que querem mentir, que querem enganar e burlar, que querem ofender, que querem destruir, que querem satisfazer os mais sórdidos apetites, que querem, em definitivo, que o seu "eu" gigante e oco navegue sem limites e tudo isso, a maior parte das vezes, a coberto do mais exasperado anonimato. Que é o mesmo que dizer: a coberto da mais ostensiva opacidade. O que mostra, desde logo, também aqui, uma contradição. Salientemo-la. o meio comunicacional que se quer afirmar como o mais refinado defensor da transparência arrasta e carrega, dentro de si - como que o protegendo -, o seu exacto contrário: a opacidade mais profunda"

José de Faria Costa, «Entre Hermes e Creonte: um novo olhar sobre a liberdade de imprensa», in Revista de Legislação e Jurisprudência, n.º 3936.

20060610

Dia de Portugal


Uma janela lisboeta de Maluda pode ser, também, um símbolo português.

20060608

abu musad al-zarkawi


O «príncipe da al-qaeda na mesopotâmia» terá sido eliminado. Juntamente com outros correlegionários da sua insane organização terrorista.
O Iraque e o Mundo - dirão alguns - ficará mais seguro. Pode até ser. Temporariamente.
Contudo, o que mais provavelmente vai suceder, será o recrudescer da demencial escalada de terror, depois da mitificação do mártir, agora desejosa e redentoramente morto.

Portugal, Timor e GNR

Timor será, por estes dias, tudo menos um Estado soberano. Tudo menos um Estado. Um «sítio muito mal frequentado» será, talvez, o melhor dos epítetos.
A (pouca) ordem e segurança está a cargo de forças expedicionárias regionais e, também - vá-se lá saber porquê - de um destacamento de operações especiais da GNR portuguesa.
Esta, foi aviltantemente desautorizada por forças australianas, no exercício de funções que desenvolvia no pressuposto de que o faria legitimamente (ao deter cidadãos alegadamente desordeiros.
Este facto, por si só gravíssimo, realça a negligência com que se concebeu, preparou e tentou iniciar a «missão» da GNR em Timor. Por parte do governo português, claro.
Uma tamanha afronta à actuação das tropas portuguesas e à sua legitimidade - requerida pelo presuntivo presidente daquele pretenso país - não tem pararelo.
Ficou claro quem manda em Timor, e quem vai mandar.
Pergunta-se porque se despacharam aqueles militares para lá. E o que lá continuarão a fazer...

20060603

Valente «puxão de orelhas» a uma maioria menor

«Cavaco Silva veta Lei da Paridade

O Presidente da República, Cavaco Silva, vetou hoje a Lei da Paridade, aprovada pelo PS e BE em Abril, e que obriga os partidos a incluir pelo menos um terço de mulheres nas listas candidatas às eleições.
Este é o primeiro veto de Cavaco Silva desde que tomou posse, a 9 de Março.
O anúncio da decisão foi feito em comunicado publicado hoje no «site» da Presidência da República.
Cavaco Silva devolveu ao Parlamento a Lei da Paridade por ter dúvidas quanto ao «carácter excessivo» das sanções contra as listas candidatas às eleições que não cumpram as quotas, de acordo com o comunicado.
O Presidente da República tem dúvidas quando aos aspectos sancionatórios previstos na lei aprovada a 20 de Abril na Assembleia da República.
Cavaco Silva considera, no comunicado, que «os partidos ou listas de candidaturas que não aceitassem ou não pudessem cumprir os critérios do diploma, poderiam ficar impedidos de concorrer a eleições, o que constituiria uma severa restrição à liberdade e pluralismo das opções próprias da democracia representativa».
Por outro lado, argumenta, «a liberdade de cada partido para organizar as suas listas, de acordo com a vontade dos seus órgãos democraticamente eleitos, seria limitada de forma exorbitante».
Em terceiro lugar, o Chefe de Estado alerta que com a imposição de quotas, nas eleições locais, a elaboração das listas «seria seriamente dificultada em certas zonas menos povoadas e mais envelhecidas do país».
Por último, Cavaco Silva avisa ainda que «a liberdade de escolha do eleitorado relativamente às listas de cidadãos seria restringida, sem fundamento razoável, mediante a inclusão artificial e forçada em lugares elegíveis de candidaturas desconhecidas ou não desejadas, de um ou outro sexo».
No comunicado, o Presidente considera que «o diploma adopta um dos regimes sancionatórios mais rigorosos da União Europeia, sem que se tenha experimentado outras soluções adoptadas por vários Estados, correspondentes às melhores práticas».
O Presidente considerou ainda que «a dignificação dos direitos políticos das mulheres constitui uma prioridade constitucional indiscutível que deve ser assegurada por meios adequados, progressivos e proporcionais, e não por mecanismos proibicionistas que concedam às mulheres que assim acedam a cargos públicos um inadmissível estatuto de menoridade».
A Lei da Paridade foi aprovada a 20 de Abril, após duas horas de polémica, com 122 votos favoráveis, e depois de, numa primeira votação, apenas terem sido apurados 111 votos «sim», insuficientes para aprovar um diploma que requer maioria qualificada (116).
Vários deputados do PS queixaram-se de o seu voto electrónico não ter sido registado, o que, depois de uma acesa discussão entre todas as bancadas, levou o presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, a decidir que, nesses casos, os deputados deveriam assinar uma folha de presenças onde indicariam o seu sentido de voto.
Este aspecto polémico - a votação da lei - não é mencionado no comunicado de hoje do Presidente da República.
Diário Digital/Lusa».

É o que dá quando não há bom senso...

20060601

Instan-te-bul

Se nesse otomano ocaso houvesse um credo sem medo,
ou se o Livro não fossem apenas sombras,
talvez os homens abdicassem de territórios, muros e fusis.

Se nesse contrário poente avistasses
as gaivotas do Tejo no Bósforo,
talvez elas não estranhassem
os espaços e os espelhos de água e nostalgia.

20060525

Máxima

"Low expectations. High serenity".

Lições maiores












Luandino Vieira recusou o Prémio Camões.
O retorno ao essencial.

20060520

Direito Penal do Futuro ou do Presente?

Do Público de dia 11 de Maio consta um artigo do jornalista A.A.Mesquita dando conta que "O penalista Figueiredo Dias admitiu, anteontem à noite, num debate no Museu de Serralves, no Porto, a licitude da prova recolhida por agentes infiltrados e homens de confiança na investigação do terrorismo, do crime organizado e de graves danos ambientais. Confessando que há duas décadas não subscreveria estas posições, Figueiredo Dias justificou a mudança de opinião com as alterações patentes na 'sociedade de risco' contemporânea, em que 'aconteceu algo de completamente novo'.O risco de atentado nuclear é uma realidade e pode concretizar-se, admitiu Figueiredo Dias. 'Vivemos a ameaça de ver desaparecer a vida do planeta', alertou, frisando a utilidade do recurso a agentes encobertos, ou a homens de confiança, para localizar, por exemplo, um terrorista com uma bomba nuclear no bolso nas ruas de Nova Iorque.A este propósito, Figueiredo Dias realçou a evolução jurisprudencial do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem - que reconhece a licitude daqueles meios de recolha de prova. 'Não quero que me dêem razão, mas já fico contente que fiquem a pensar nisso.'No debate com o filósofo António Pedro Pita e com o catedrático de Direito Paulo Ferreira da Cunha, Figueiredo Dias preconizou uma postura interventiva do direito penal. Demarcou-se da Escola de Frankfurt, para quem o 'direito penal não tem nada a ver com isso' [os problemas da sociedade de risco]. Demarcou-se, também, dos que defendem a auto-regulação dos agentes sociais. 'Tenho netos e não quero isso para eles', assegurou.O penalista, que é o rosto da Escola de Coimbra, também não poupou o securitarismo, bem espelhado em dois slogans: Tolerância zero e À segunda, ficas fora (Twice, you're out). Realçou que nos Estados Unidos está a aumentar a influência da chamada 'socialização do humanismo'. Princípios que já não se circuncrevem aos penalistas das universidades de Yale e de Boston, 'mas também são defendidos em Los Angeles e São Francisco'. 'Recuso-me a acreditar que a humanidade vá por aí', afirmou.O debate foi iniciado com a clarificação de conceitos. Figueiredo Dias sublinhou que crime não é igual a pecado. O direito penal não é moral e a pena não é uma descida às profundezas dos infernos. 'O meu negócio', explicou. 'É o dos homens, não é o de Deus, com todo o respeito que tenho pelas instituições morais e religiosas.' 'O direito penal é um direito de protecção para que aqui possamos estar em segurança e liberdade.' 'É só isto o direito penal', resumiu. E fez uma revelação: 'Leio talvez demasiados autores alemães e poucos norte-americanos.' 'O jurista alemão está esmagado pela ciência e o norte-americano está em cima da ciência', opinou, provocando risos na assistência.O Direito Penal é a disciplina mais bela do curso de Direito. Essa é a conviccção de Figueiredo Dias, que a transmitia nas aulas de apresentação aos seus alunos. Recordou o desfolhar das páginas de um jornal perante os seus alunos, onde predominavam as notícias sobre crimes e os inúmeros filmes e séries televisivas inspirados no crime e na vida dos magistrados, dos polícias e pessoas a contas com a justiça. 'Não me recordo de um filme sobre direito privado, apesar das OPA... Porquê?', questionou.'Para além da força dramática do crime, para o penalista há outra sedução extraordinária no direito penal: dá-nos a ilusão de que se está a sondar a condição humana.' Mas alertou, noutro momento do debate: 'A posição do penalista não serve para tudo. É que não há crime nem pena sem lei.'Desafiado a definir o antónimo de crime, o professor não hesitou: 'É a paz. O crime é um atentado contra a paz.' Mas, ao definir o ilícito penal, Figueiredo Dias foi mais cauteloso: 'O penalista fica na mão com uma pessoa: o criminoso. Aí é toda a condição humana, a pessoa em todos os seus condicionalismos.'O carácter íntimo do debate era notório. No auditório de Serralves estavam, sobretudo, antigos alunos e colegas de curso de Figueiredo Dias, alguns actualmente empenhados na carreira universitária. O ambiente propiciava revelações íntimas. 'Se não fosse penalista, gostava de ser psiquiatra, mas psiquiatra teórico', confessou Figueiredo Dias. Mais adiante, quando reflectia sobre a 'culpa', o professor precisou posições. 'Se não fosse psiquiatra, não era penalista. Mas sou e trato das questões do homem em sociedade. O psiquiatra não é um médico nem é um padre. É um cuidador da alma', garantiu."

20060516

O Estado de São Paulo

São Paulo, a grande megalópole, foi assaltada pelos criminosos. A trégua subsequente a alegadas conversações entre autoridades e o capo permite ver uma mais prematura do que previsível capitulação o Estado face ao crime organizado.
É patente a instante necessidade de se reprimir duramente o tráfico de armas e a sua proliferação.
O Estado de São Paulo já está a arder? Ou o Estado, tout court?

20060514

Desmistificação



«A ideia de que a Europa, ou os ocidentais, eram simplesmente os culpados e os africanos vítimas é uma simplificação abusiva e moralista da História. Em África, vive-se uma cumplicidade que sempre existiu entre os que exploravam, os que roubavam recursos, a partir de fora, e os que eram coniventes com isso, de dentro. Essa opressão sempre foi feita a duas mãos. E o que acontece hoje com algumas elites africanas é a continuação desse percurso. Obviamente esta leitura não interessa a essas elites».

Mia Couto, Mil Folhas, 13.V.2206.

20060511

Ilha Dourada

Ao Henrique Monteiro

A fortaleza mergulha no mar
os cansados flancos
e sonha com impossíveis
naves moiras.
Tudo mais são ruas prisioneiras
e casas velhas a mirar o tédio.
As gentes calam na voz
uma vontade antiga de lágrimas
e um riquexó de sono
desce a Travessa da Amizade.
Em pleno dia claro
vejo-te adormecer na distância,
Ilha de Moçambique,
e faço-te estes versos
de sal e esquecimento.

Rui Knopfli

20060506

Prioridades

Define bem as tuas prioridades. Podes ter a certeza de que à hora da morte nunca ninguém disse: «Se ao menos eu tivesse estado mais tempo no escritório.»

H. Jackson Brown, Jr., Pequeno Livro de Instruções para a Vida.

20060426

Globalização

"Num mercado globalizado, aquilo que uns perdem - a estabilidade do emprego, o nível salarial, a seguraça social, o poder de compra - não é automaticamente ganho pelos outros. A mãe de família de Pusan, na Coreia do Sul, que exerce um trabalho mal pago, o proletário indonésio que, por um salário de miséria, se esfalfa no mercado de montanha de uma zona franca de Jacarta, só muito mediocremente conseguem melhorar a sua situação, ao passo que um mecânico de Lille ou um trabalhador têxtil de Saint-Gall mergulham no desmprego permanente».

Jean Ziegler, Os senhores do crime.

A diferença - acrescentaria eu -, vai parar ao bolso dos arautos neo-liberais.

20060425

25 de Abril, trinta e dois anos depois

O Presidente da República instou o País para um "compromisso cívico" pela inclusão social.
O repto, vindo de alguém que nunca foi um entusiasta da revolução dos cravos, é compreensível - é, afinal, o reconhecimento de uma situação real de degradação das condições de vida dos portugueses e da falta de perspectivas destes, numa altura em que o 25 de Abril é um símbolo mal explicado e mal entendido.
Menos compreensível é que tenha de ser lembrado por um «forasteiro da democracia» àqueles que profissionalmente se reclamam das "conquistas de Abril".

20060424

Senso comum

Quando não te pedem nada, vê bem quanto tens de pagar.

20060423

O Paquete "Santa Maria"



Este paquete foi palco de uma acção mediática de luta contra o Estado Novo. Henrique Galvão tomou-o de assalto, qual «Setembro Negro» antifascista de antanho.
Páginas de História como essa devem ser lembradas. Houve, pelo menos, coragem e têmpera. Estamos quase a comemorar o 25 de Abril, essa data de esperança, mas também de alguns equívocos e frustrações.

Veneza, a bela

20060421

Custos

Não fazer nada dá muito trabalho.

João César Monteiro

20060420

Outra vez, as funções do Estado

Custa-me confiar num Estado que me proibe de fumar em «espaços fechados» e quer privatizar as Prisões.

20060417

Feliz(es) idade(s)

Este modesto e despretensioso blog perfaz hoje o seu primeiro aniversário. Por isso, embora não seja coisa por aí além, estamos de Parabéns; quem o faz e quem o lê. Por estarmos vivos. Basta isso.

20060408

Prophétie


où l'aventure garde les yeux clairs
là où les femmes rayonnent de langage
là où la mort est belle dans la main comme
un oiseau
saison de lait
là où le souterrain cueille de sa propre
génuflexion un luxe
de prunelles plus violent que des
chenilles
là où la merveille agile fait flèche et feu
de tout bois

là où la nuit vigoureuse saigne une
vitesse de purs végétaux

là où les abeilles des étoiles piquent
le ciel d'une ruche
plus ardente que la nuit
là où le bruit de mes talons remplit
l'espace et lève
à rebours la face du temps
là où l'arc-en-ciel de ma parole est
chargé d'unir demain
à l'espoir et l'infant à la reine,

d'avoir injurié mes maîtres mordu les soldats
du sultan
d'avoir gémi dans le désert
d'avoir crié vers mes gardiens
d'avoir supplié les chacals et les hyènes pasteurs de caravanes

je regarde
la fumée se précipite en cheval sauvage
sur le devant
de la scène ourle un instant la lave
de sa fragile queue de paon puis se
déchirant la chemise s'ouvre d'un coup la poitrine et
je la regarde en îles britanniques en îlots
en rochers déchiquetés se fondre
peu à peu dans la mer lucide de l'air
où baignent prophétiques
ma gueule
ma révolte
mon nom.


Aimé Césaire

20060329

O Estado, um dia destes

Parece que uma Comissão arbitral arbitrou uma indemnização às vítimas da Casa Pia.
Penso que bem.
Mas, um Estado que desconfia dos seus Tribunais, do seu sistema judiciário, e resolve atribuir competências a outras instâncias, é um Estado deslegitimado. Ou talvez já nem isso seja.
Do que se trata, é de uma «justiça a duas velocidades», portanto, de um injustiça relativa.

20060325

Colunas de Hércules



Podia ser ontem. Pode ser hoje.

Perder a vista nas colunas de Hércules.

Em Tânger, fugaz, contemplas um sonho, um murmúrio.

E numa bateira aventuras-te no grande e fundo mar do canal.

Se calhar, para te afundares, e ao teu sonho...

20060322

Tudo o que te dou

Dava tudo para te ter ao meu lado.
É o que se costuma dizer aos que se ama ou aos que se foram para sempre.
Tudo? Talvez.

20060319

Anúncios

«Porsche de 1996. Como novo. Só € 25.000,00. Motivo urgente.
Telem. 90#"!&%(/()=».

Ao lado:
O 3.º Juízo Cível de Matosinhos anuncia a venda por propostas em carta fechada de um veículo automóvel, fizando-se o preço base em xxx €uros. Assinatura ilégível do agente de execução».

Mais ao lado,
«Cansado de ser enganado?Procura-me.Meiga, sensual. 18 aninhos (a estrear). Garagem privativa grátis.
Telem. 9=%#'?$!/)(».

Defintivamente, a nossa sociedade automobilizou-se.

20060314

O País das OPAs

Sonaecom sobre Telecom.
BCP millenium sobre BPI.

Portugal parece decididamente um País de grande capital. É pena é que esse «capital» seja só especulativo e não produtivo.
Como se compreende que tais investimentos, em vez de criar, irão, provavelmente, extinguir muitos empregos?

Que mil opas floresçam.

É por ser tempo de Quaresma

20060313

Prostituição contra recibo

O Governo parece querer «criminalizar» as práticas sexuais dos clientes das prostitutas que dependam das redes de tráfico de mulheres, «mesmo que não tenham conhecimento» disso.
Pasmei.
Pensava eu que o cliente do sexo «comia e calava». Agora, convirá previamente exigir a cédula de profissional liberal. E, já agora, pedir recibo.

Quem é o autor? Lacão. Só podia ser ele...

20060307

O senhor Silva

O "senhor Silva" é Presidente da República.
Pelo menos, foi assim que o tratou um presidente de um governo regional.
Lembram-se?


Os nossos melhores votos de um mandato concordante com as expectativas criadas.

20060223

Mudar a Existência

«Alguns dirão que é ao mudar que uma existência retoma o rumo que sempre deveria ter sido o seu».

Amin Maalouf, O Périplo de Baldassare.

20060205

(Pre)texto


A liberdade de expressão tem limites?
Um preservativo no nariz do Papa (caricatura de António, no Expresso) talvez já tenha sido excessivo. Na época, não se rasgaram vestes. Houve uma tíbia reacção.
Os tempos são outros.
Hoje, a caricatura de Maomé «bombista» acendeu o rastilho da ira islâmica, como se tal não fosse previsível.
A indiferença, inconsciência ou provocação dos liberais do ocidente só tem paralelo nos salafistas e mullahs radicais. Os extremos continuam a tocar-se, afinal.
Porque não admitir que a dita liberdade de criação e expressão pode ser uma manifestação de arrogância do mundo dito «civilizado»?

20060129

Por este andar...

«As escutas telefónicas devem acabar».

António Barreto

«Deve haver uma comissão parlamentar para fiscalizar as escutas telefónicas».

Duarte Lima

«Só em 2007 haverá verbas para a investigação da criminaliade económica e financeira».

(Informação do Director Nacional da PJ. Dos jornais)

Afinal, as coisas estão-se a compor.

20060125

Surpresa?

Nem por isso. Cavaco Silva é Presidente de todos os portugueses: dos que votaram nele, dos que não votaram e, ainda, dos que não puderam ou não quiseram votar nele.
Nada de surpreendente, também, o resultado das candidaturas da «esquerda», dada a estratégia suicidária e autodestrutiva das mesmas.
Quanto a Soares, bem, Soares averbou duas (ou três?) pesadas derrotas: ficar atrás de Alegre, perder contra Cavaco e, se calhar (3.ª hipótese): ter deixado de ter influência política. Afinal, quem perdeu a presidência do Parlamento Europeu para uma «dona de casa», nem se pode queixar de ter perdido, agora, contra um professor de economia e contra um escritor-poeta.
A vida tem destas surpresas.

20060103

Tombuctu

Havia uma biblioteca
em Tombuctu,
onde as caravanas paravam,
vindas dos sonhos
com ouro e escravos do Índico,
por onde andara Luís Vaz,
febril e com piolhos,
pelejando e fazendo amor.

Há ainda uma biblioteca
em Tombuctu,
onde não está nenhum manuscrito
de Luís Vaz,
talvez resgatado do fundo do mar.

Haverá uma biblioteca
em Tombuctu

por ser no meio de lugar nenhum
é lá que tudo acontece.

Globabelização





Globabelização é isso mesmo: um neoconceito, de acordo com o qual a globalização se cruza com a(s) língua(s).
A língua é tanto mais falada quanto maior a força para a impôr. Foi assim com todos os impérios históricos.
Hoje, o fenómeno da globalização - em que se dissolve o território e se comprimem as distâncias - parece permitir a inversão desse processo. O inglês perde influência, há línguas emergentes. Procuram-se tradutores cibernéticos simultâneos, o que pode vir a tornar obsoletos os institutos de línguas. No limite, as próprias disciplinas de línguas (estrangeiras).
Como se irá comunicar?