20070430

O afrouxamento da normalidade

«O capitalismo dos nossos dias já ultrapassou a lógica da normalidade totalizante, adoptando agora a lógica do excesso errático: Quanto mais variado, errático mesmo, melhor. A normalidade começa a perder o seu domínio. As regularidades principiam a afrouxar. Este afrouxamento da normalidade faz parte da dinâmica do capitalismo. É a forma de poder do capitalismo. Já não é o poder institucional disciplinar que define tudo, mas sim o poder capitalista de produção de variedade - pois os mercados acabam por se saturar. Produzindo variedade, produzem-se nichos de mercado. As mais bizarras tendências afectivas não são um problema - desde que dêem lucro. O capitalismo começa a intensificar o afecto, mas apenas par disso extrair valor excedente. Apossa-se do afecto para intensificar o potencial de lucro. Valoriza literalmente o afecto».

Slavoy Zizek.

20070429

The Clash - «Rock The Casbah»

Premonitório exercício de «adivinhação»?

20070427

Rostropovich - «Prelude from Bach's Cello Suite No. 1»

R.I.P. A uma Grande Pessoa, Artista e humanista.

20070426

Gabriel o Pensador - «Tás a Ver»

Polícias politicamente correctas...

Há dias, a PJ deteve uns quantos skinheads, alegadamente detentores de armamento proibido.

Ontem, dia 25 de Abril de 2007, a PSP deteve uma dúzia de indivíduos incivilizados, por desacatos, e também por serem possuidores de material «anarco-libertário» (sic, do relatório policial).

Estou espantado. Nunca as nossas polícias estiveram tão eficazes, mas ao mesmo tempo tão imparciais, isentas e equidistantes.

20070423

20070422

Manu Chao - «la valse a Sarkozi»

Hoje é a 1.ª volta das eleições presidenciais em França...

Exorcise your conformism.

20070421

O improvável Holocausto de Liviu Librescu

Em criança, Liviu Librescu foi deportado para um campo de trabalho e depois para um gueto judeu pelo regime nazi alemão. Por recusar fidelidade ao regime comunista romeno, conseguiu emigrar para Israel.
Era professor de engenharia aeronáutica da Universidade Virginia Tech. Foi morto, ao bloquear com o seu corpo a entrada na sua sala de aula, pelo perturbado aluno Cho Seung-Hui, permitindo que os estudantes saíssem pela janela, salvando-se.

Estaria escrito algures que Librescu se libertaria da lei da morte. Viria a perecer, afinal, no mais improvável holocausto da sua vida, salvando outras.
Importa lembrá-lo e venerá-lo como uma das pessoas indispensáveis deste mundo contraditório, assimétrico e, por vezes (demasiadas vezes), absurdo.

Dead Can Dance -The Host Of Seraphim

20070420

Digno de registo

«O diálogo de civilizações é impossível. Sabe porquê? Porque não é igualitário. O Ocidente vive as suas contradições, está velho, cansado. A Europa não tem vigor nem força. O Ocidente já perdeu. Os outros são jovens, vigorosos, têm fé, são fanáticos, têm rancor social. E à sua frente existe um inimigo disposto a negociar durante todo o tempo.O Ocidente entende o diálogo como uma negociação. Eu conheço este mundo e sei que não se pode negociar.
Paradoxalmente, o mais forte não é o Ocidente. E é bom que assim seja. Necessitamos de sangue novo, seria bom que fôssemos invadidos pelos bárbaros de vez em quando. As invasões bárbaras destroem os impérios. Aconteceu em Bizâncio, em Roma, em tantos sítios. Acho que chegou a vez de o Ocidente ser verdadeiramente invadido».

Arturo Pérez-Reverte, Ípsilon de 20/04/2007.

20070419

«Me llaman Calle» - Manu Chao

Hoy no somos putas, hoy somos princesas.

Basta-me

Basta-me
que existas

posso não te falar
posso não te acariciar
posso até não te ver

porque sei a intensidade
de te sentir

poderei mesmo, por isso
renunciar
a amar-te

todo eu
existo por ti.

Pedro Abrunhosa - Quem Me Leva Os Meus Fantasmas

Nick Cave - "into my arms"

Sim. Eu sei que parece que converti este blog numa espécie de tabacaria musical de gosto duvidoso. Mas acho essencial evitar as indesejáveis altas frequências da espuma destes dias. Desculpem dar-vos Música. Sempre é melhor do que uma "caixa de charutos".

20070418

Traição

«Só quem ama se pode converter num traidor. A traição não é o reverso do amor: é uma das suas opções.»

Amos Oz

Renata Tebaldi - «La Wally»

Hai ku

Sulcaste-me
a alma
com cálamos
de bálsamo

20070417

2.º Aniversário

2 - Anos - 2.
Parece incrível, mas faz dois anos que se iniciou este blog.
Não é que seja motivo para festejar, mas fica-me a vaga impressão que não se tratou de um impulso momentâneo e é sinal de que vai havendo alguma coisa a comentar...
Para quem tem vindo, Obrigado.
É possível que continue esta escondida (mas não clandestina) aventura.

20070415

Sexual Healing (Marvin Gaye)

O acabar de qualquer noite...

20070412

Perplexidades

Confesso que, apesar de uma certa náusea com o folhetim «Sócrates-UnI», não consigo resistir a um comentário.
O 1.º ministro Pinto de Sousa declarou, na entrevista que concedeu à RTP 1 no dia 11 à noite, que havia escolhido a universidade independente para «concluir a licenciatura em engenharia» porque, «...na altura, era uma universidade de prestígio...e ficava perto do ISEL...» (sic.).
Ficou por explicar a razão pela qual, sendo uma universidade (?) tão "prestigiada", os seus cursos não eram reconhecidos pela Ordem dos Engenheiros...

20070411

De novo, a barbárie do Terror

Ontem em Casablanca. Hoje em Argel, o fanatismo de inspiração islâmica deu novamente mostras da mais demencial e incompreensível obstinação, face a presuntivos inimigos, espalhando o terror nos seus próprios campos, nos seus mais próximos irmãos.
Estamos mais pobres, mais desamparados.

20070409

Don´t let them kill us

Essa foi a mensagem que as candidatas a Miss Sarajevo ostentaram para o Mundo, no concurso durante o cerco da cidade, e que inspirou a canção dos U2.

Bem podia ser a divisa dos que peticionam a moratória imediata para as execuções de pena de morte em todos os Países.
É uma causa que nos deve mobilizar.
Não a moratória, mas a sua total e imediata abolição.

20070408

Prophétie


Là où l'aventure garde les yeux clairs
là où les femmes rayonnent de langage
là où la mort est belle dans la main
comme un oiseau

saison de lait
là où le souterrain cueille de sa propre
génuflexion un luxe
de prunelles plus violent que des
chenilles
là où la merveille agile fait flèche et feu
de tout bois

là où la nuit vigoureuse saigne une
vitesse de purs végétaux

là où les abeilles des étoiles piquent
le ciel d'une ruche
plus ardente que la nuit
là où le bruit de mes talons remplit
l'espace et lève
à rebours la face du temps
là où l'arc-en-ciel de ma parole est
chargé d'unir demain
à l'espoir et l'infant à la reine,

d'avoir injurié mes maîtres mordu
les soldats du sultan
d'avoir gémi dans le désert
d'avoir crié vers mes gardiens
d'avoir supplié les chacals et les hyènes
pasteurs de caravanes

je regarde
la fumée se précipite en cheval sauvage
sur le devant

de la scène ourle un instant la lave
de sa fragile queue de paon puis se
déchirant
la chemise s'ouvre d'un coup la poitrine et
je la regarde en îles britanniques en îlots
en rochers déchiquetés se fondre
peu à peu dans la mer lucide de l'air
où baignent prophétiques
ma gueule
ma révolte
mon nom.

Aimé Césaire
What do you think you´re building?

20070407

UnI(ver)cidade

Entediante e patético. É o mínimo que se pode dizer sobre a folhetinesca sucessão de aparentes irregularidades, anomalias e disfuncionamentos da assim chamada "universidade independente".

Que nesse tropel de notícias tenha aumentado o «ruído» à volta do diploma académico do 1.º ministro (e eu, que já por várias vezes o designei por «eng.º», título aparentemente inaplicável, mea culpa) parece-me ser uma consequência mais ou menos esperada.
Aliás, estas coincidências nunca são inocentes.

Adensa ainda mais o pântano o simples facto da composição da "nova equipa reitoral" que irá ser apresentada ao ministro Mariano Gago como garante de credibilidade da instituição.

Mas a verdade é que alguém está a dever uma explicação urbi et orbi. Que tarda.

20070406

Morreste(-nos)

No dia do funeral do Zé Alfredo

Morreste(-nos).
Sem aviso prévio.

Sôfrego, como sempre, da vida
que te devorou.

Percorres ainda os caminhos da cidade
no tumulto habitual que nos impregnava de energia.

Tu, inspirado oficiante dos limites do sentir
e experimentador de emoções a haver.

Não. Hoje à noite não passeará o esquife do Senhor morto nas ruas de Braga,
porque enterrámos o teu corpo ao meio-dia.
«Zé..., ao Céu, ao Céu» - ainda ecoa o Padre Azevedo.

Afinal, deixaste-nos em troca de quê?
Foda-se!
Pensas que não fazes falta?