20070531

Cocteau Twins - «Bluebeard»

Agora, algo ligeiramente mais "ligeiro"...

Felicidade II

«A felicidade nunca é grandiosa»

A. Huxley

20070527

Causas

Podia defender muitas causas, múltiplas causas. Causas como Timor, a libertação de Ingrid Betancourt, o fim das atrocidades no Darfour, os imigrantes dos cayucos, as vítimas de violência doméstica, etc, etc. Não faltam temas nem pretextos a inspirar campanhas pela sua visibilidade.
Hoje, no entanto, só me apetece defender uma causa: cultivar o esquecimento, ou, como escrevia S. Alba, «cultivar a surdina». Também tenho momentos destes.
Será isto a inconsequência na defesa das causas?

Prémio Lucidez

«O amor é algo eminentemente fugaz».

Pedro Mexia

Não o fazia tão senil...

"Almeida Santos, que falava à saída da reunião da Comissão Nacional do PS, é contra a construção do aeroporto na Margem Sul, mas invoca razões relacionadas com a defesa nacional, nomeadamente o risco de destruição de uma das pontes sobre o Rio Tejo.
O presidente socialista explicou que um aeroporto na Margem Sul do Tejo implica passar sobre pontes e que estas podem ser destruídas por terroristas".

E eu, que afinal estava convencido que o «presidente socialista» advoga o «diálogo com os terroristas» e que não estaria particularmente preocupado com uma tal eventualidade...

Para se chegar a esta argumentação, o estado de desespero é total. Fica claro que não há mais argumentos para defender a Ota.

20070524

Felicidade

«Só somos felizes, verdadeiramente felizes, quando é para sempre, mas só as crianças habitam esse tempo no qual todas as coisas duram para sempre».

José Eduardo Agualusa, O vendedor de passados.

20070521

Às vezes, a realidade, a cores e ao vivo...

Do Sol on line:

«No Médio Oriente, trocam-se acusações quanto à origem da recente onda de violência no Líbano, com Beirute a acusar a Síria de tentar destabilizar o pequeno país, e Damasco a negar qualquer laço coma a Fatah al-Islam que, por sua vez, é acusada pelos sírios de ter laços com a Al Qaeda de Osama Bin Laden.
Vários membros deste grupo radical islâmico foram detidos nos últimos dias. Entre os militantes contam-se cidadãos da Síria, Arábia Saudita e Argélia, bem como um libanês suspeito de ter estado envolvido na preparação de um atentado na Alemanha, no ano passado, que foi evitado pelas autoridades germânicas.
Poucas centenas de quilómetros a sul do Líbano, a situação não é melhor. Na Gaza palestiniana, continuam os confrontos entre os militantes radicais do Hamas e os moderados da Fatah, apesar dos apelos dos seus líderes para o fim dos combates.

Ao mesmo tempo, militantes do Hamas continuam a disparar rockets a partir de Gaza para a cidade israelita de Sderot, do outro lado da fronteira. Esta segunda-feira, uma mulher perdeu a vida quando o seu carro foi atingido por um destes mísseis.
Israel, entretanto, continua a responder às acções do Hamas e ameaça agora eliminar altas figuras do governo palestiniano, incluindo o primeiro-ministro Ismail Haniyeh, membro do movimento radical.
Na Jordânia, no entanto, o Rei Abdullah apelou ao fim da violência no Médio Oriente. Em entrevista à BBC, o monarca afirmou que «dentro de dois anos, pouco restará de um possível Estado palestiniano» se prosseguirem as disputas internas. O rei da Jordânia aconselhou ainda Israel a ter «cabeça fria» e a não responder aos ataques do Hamas».
(SOL com agências)

Convém ter a noção que as coisas no Médio Oriente (e nomeadamente na Palestina) não acontecem por acaso e não são, exactamente, a "preto e branco"...

20070519

salazarismos de repartição

Consta do Público de hoje (19/5/2007) que a directora regional da DREN (Direcção Regional de Educação do Norte) ordenou a suspensão de um professor por este ter dito uma piada sobre a licenciatura do 1.º ministro.
Que "foi no seu local e horário de trabalho..." invocou a zelosa burocrata, considerando a ocorrência um "insulto" (não se sabendo se o visado teve conhecimento da grave infâmia).

Alguém se admira que o "fantasma" de Salazar ganhe o concurso «grandes portugueses»?

20070518

Hai ku

eros
dito
erudito

Como «destragedear» a Vida?

O desaparecimento de crianças é um pesadelo fantasmático do tempo actual, que nos remete para o domínio dos piores receios e inseguranças de um mundo em processo contínuo de avolumar crescente dos (mega)riscos.
A propósito do desparecimento da criança inglesa Madeleine, no Algarve - cujo esclarecimento se antevê como algo de complexo e, porventura, surpreendente - convoquemos o caso dessa autêntica «Mulher-Mãe-Ícone» Filomena Teixeira, cuja exemplar persistência na lembrança da ausência inexplicada e no esforço de resgatar um filho desaparecido em 4/3/1998, o Rui Pedro, é indesejavelmente, insuportavelmente inspiradora.
O extremo da dor da incerteza de não saber de um filho desaparecido é possivelmente (se é que a dor é mensurável) mais devastador do que sabê-lo morto.
Isso mesmo atesta Filomena, ao sentir e viver, também fisicamente, as consequências dessa trágica ocorrência.

Filomena, uma mulher que nos interpela a todos, de algum modo passivos cúmplices do mal que grassa nas nossas comunidades, quiçá nas nossas casas.

De uma forma singularmente bela e intensa, ela tem resistido a tudo com uma imensa dignidade, mas, sobretudo, tem resistido à indiferença, ao desânimo e ao conformismo. Merece mais do que qualquer pseudo-edificante homenagem, o reconhecimento da solidária dedicação a uma causa que teve que absolutizar, em prejuízo de outros interesses e de outras prioridades.
Continua, Filomena, a iluminar e inquietar as más (e também as boas) consciências oficiais (e as outras).
Tens que saber que te devemos muito. O teu exemplo é de uma impressionante e incomparável coragem.
És daquelas pessoas que um poeta disse, uma vez, serem as «indispensáveis».

Perante isso, como «destragedear» a vida?

20070516

Assim na Terra...

Era ainda o tempo futurível
dos avatares sublimes

e de nos adentrarmos
nessa noite insone

inscrevendo
segredos ágrafos
em cânones sânscritos

era o tempo circular
desde a idade fundacional
à fusão do átomo

e de como não haver amanhã.

20070514

Talvez haja uma hipótese...

«Les réserves de main-d'oeuvre bon marché s'épuisent en Chine. Un rapport de l'Académie chinoise des sciences sociales de Pékin tire la sonnette d'alarme : «La Chine est en train de passer d'une ère d'excédent de main-d'oeuvre à une ère de pénurie, qui sera effective d'ici à 2010», rapporte le China Daily de samedi. Estimée jusqu'à présent à 100 ou 150 millions de travailleurs, la réserve d'«ouvriers à tout faire» de moins de 40 ans ne serait plus que de 52 millions, hommes et femmes confondus».

Libération on line, de 14/05/2007.

20070513

deusa acidental

Não te soubeste anunciar

terrena deusa acidental
incendiando esta mediterrânica
ordem previsível

e o voo sossegado das águias

na surdina
dum ambíguo destino

com a tua ausência
vais adiando
as pressas e anseios
ordinários

tua presença
seria, porém,
incerto sobressalto
numa duradoura
paz imperial

20070512

Mão morta - «Cantos de maldoror»

A ver no Theatro Circo, de Braga - 11 e 12 de Maio. 19 de Maio, no C.A.Espectáculos de Portalegre.

20070506

A morte, depois de amanhã...

A morte era, antes, invariavelmente mais acidental, mais doméstica, mais testemunhada.
Isto vem a propósito de ter ouvido dizer: "Amanhã, talvez vá a um funeral!...". Dito assim, parece que a morte é coisa programável. E é, de facto.
Alguém, em estado vegetativo e sem retorno a este mundo dos viventes, aguardava que desligassem as máquinas de suporte e apoio à vida.
Só que - desagradável contrariedade - o médico que deveria proceder à operação de «switch off» da máquina não pôde comparecer à hora aprazada. Resultado: a dita intervenção teve de ser adiada para um dia depois.
E, na verdade, o funeral só se realizou no dia seguinte.

20070505

Ahmadinejad goes liberal

Mahmoud Ahmadinejad, esse incompreendido, acaba de retirar mais uma avançada proposta, por ter sentido a censura do establishment dos ayatollahs no poder.
Tinha ele fantasiado a vanguardista medida de autorizar a entrada de mulheres - grandes amadoras da modalidade, no Irão (mascarando-se de homens para se introduzir nos recintos desportivos, sujeitando-se a vexatórias penas) - nos estádios de futebol, quando sentiu recair sobre si as reprovadoras críticas dos ortodoxos.
Entretanto, as autoridades de costumes iranianos endureceram a política de padronização de vestuário "aceitável" e outros devaneios pró-ocidentais.
Anteontem foi, ao que li, severamente censurado pela atitude "indecorosa" e "quase lúbrica" de beijar a mão enluvada da sua velha professora.

Depois da libertação dos marinheiros ingleses e destas ideias, alguém teima em afirmar que o homem tem maus instintos?

20070504

Estímulo americano

Há dias, o Departamento de Estado (norte-)americano elogiou, num relatório, o trabalho da luta anti-terrorista levada a cabo pelas autoridades portuguesas. Ao que parece, terão sido instauradas umas dezenas de processos por suspeita de branqueamento de dinheiro ligado ao terrorismo.
O ministro da Justiça, A. Costa, apressou-se a classificar a referência como um «estímulo» ao trabalho das polícias portuguesas, designadamente, da P.J.
A verdade é que não há notícia de resultados quanto a tais investigações, que, devendo estar em segredo de justiça, vêm escarrapachados num relatório americano de duvidoso rigor (pelo menos quanto a Portugal).
Mas, mesmo que isso não fosse assim, o que Alípio Ribeiro não esperava era este «estímulo» do «amigo americano».
O que lhe estava guardado...

U.M.R.P.

A Resolução do Conselho de Ministros n.º 64/2007, de 4 de Maio extiguiu a Unidade de Missão para a Reforma Penal.
Não há mais nada a fazer?

C.M.L.

Confesso que o folhetim da Câmara de Lisboa não me interessa por aí além. Afinal de contas, não sou alfacinha nem vivo (mas já vivi e trabalhei) em Lisboa. Os incómodos que sofro quando vou à «capital» seriam invariavelmente os mesmos, independentemente dos governantes municipais.
No entanto, sou forçado a reconhecer que apenas Marques Mendes tomou, neste capítulo, uma posição coerente e firme.
Perante uma «(o)posição de direita» inexistente, uma «oposição de esquerda» a apostar numa estratégia de quanto pior melhor, e uma atitude de incompreensível apego ao poder pelo poder, por parte do presidente do executivo, M. Mendes tomou a (única) posição lógica, desassombrada e adequada ao momento: pedir eleições intercalares, para sair do «pântano alfacinha».
Afinal, em matéria de moralidade e ética política ele pode não ter muito a ensinar, mas outros há que têm muito a aprender.

Oitavo dia

O sopro fundador durara sete dias e sete noites
Exangue, o jovem Deus aquietou-se no súbito instante
Em que cada unidade se tornou diferente de outra
E o mar se distinguiu da terra e do céu.
Adormeceu sobre o livro de cada um dos viventes
Que acabara de talhar. Desconfortável, uma ideia de ausência
Sobressaltou-o.
O oitavo dia brilhava quando abriu o capítulo oculto e fez o
homem possuidor da ferramenta matricial: a palavra.
Naquele tempo, pré-Babel, o homem navegou numa só língua
e proclamou universal a descoberta do mistério da vida na
aventura da palavra. Poesia.

J.A.Branco, Pedra Solar.

20070502

Kyung Wha Chung -Max Bruch violin concerto 1st mov.

Parabéns, José Eduardo Agualusa

José Eduardo Agualusa ganhou XII Prémio de Ficção Estrangeira do The Independent, com «O Vendedor de Passados».

A distinção britânica da escrita sensível, humorada e elegante de J. E. Agualusa é mais do que merecida. Também fico muito honrado e satisfeito.

Ennio Morricone - «The Mission»

Precisamos desta Música.