Hoje é dia 11 de Março (de 2007).
Há três anos, quatro violentas explosões noutros tantos combóios que se dirigiam a Atocha - Madrid, provocaram 191 mortos e cerca de dois milhares de feridos.
Procede-se, actualmente, na Audiência Nacional de Madrid, ao julgamento de 29 dos considerados responsáveis (em graus diferenciados) dessas mesmas explosões. Outros - considerados os principais executores das explosões - fizeram-se morrer, fazendo explodir um edifício e matando um oficial de polícia e ferindo outros dois.
O Estado espanhol parecia ter dado uma verdadeira lição de exercício do Estado de Direito ao conseguir, num período excepcional, apurar os factos delituosos e identificar o seus responsáveis, possibilitando, assim, o seu julgamento público (quase on line).
Num certo sentido, quando o Estado fica em causa de forma tão afrontosa, como neste caso sucedeu, é natural que invista todos os seus meios e recursos mais qualificados e capazes no cabal esclarecimento de tais atentados, por ficar em causa a sua autoridade, e, no limite, a sua sobrevivência.
Por paradoxal que pareça, a verdade é que, esse mesmo Estado espanhol, perante a greve de fome de um «etarra» (De Juana Chaos) conotado com crimes de sangue, pela mão do seu presidente do conselho de ministros (J. Luis Zapatero), decidiu atenuar a sua situação prisional e conceder-lhe a "excarcelación", permitindo-lhe continuar o cumprimento da pena no domicílio, sujeito a pulseira electrónica. Tal decisão tem motivado expressivas manifestações de rua contra Zapatero.
Estes (dois) sinais são ostensivamente contraditórios em si mesmos. Que supremo argumento seria exibido, então, se um dos actuais acusados no julgamento do 11 de Março (para os quais se pedem "dezenas de milhares de anos" de prisão), eventualmente condenado, viesse a fazer greve de fome e ficasse em risco de perecimento, para o manter em prisão?
Considerar que há «terroristas bons» e «terroristas maus» tem sido um logro que os dirigentes ocidentais ainda não aprenderam a evitar. Além disso, em Espanha - País flagelado há décadas pelo terrorismo separatista basco - já devia haver uma clara noção de tal falácia.
É estranho e inoportuno, num momento que supostamente deveria ser decisiva uma posição de coerência e de coesão entre Estado e Sociedade, aquele se arrogue de maior clarividência, ainda que em homenagem a qualquer valor de louvável superioridade moral.
20070311
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