20070518

Como «destragedear» a Vida?

O desaparecimento de crianças é um pesadelo fantasmático do tempo actual, que nos remete para o domínio dos piores receios e inseguranças de um mundo em processo contínuo de avolumar crescente dos (mega)riscos.
A propósito do desparecimento da criança inglesa Madeleine, no Algarve - cujo esclarecimento se antevê como algo de complexo e, porventura, surpreendente - convoquemos o caso dessa autêntica «Mulher-Mãe-Ícone» Filomena Teixeira, cuja exemplar persistência na lembrança da ausência inexplicada e no esforço de resgatar um filho desaparecido em 4/3/1998, o Rui Pedro, é indesejavelmente, insuportavelmente inspiradora.
O extremo da dor da incerteza de não saber de um filho desaparecido é possivelmente (se é que a dor é mensurável) mais devastador do que sabê-lo morto.
Isso mesmo atesta Filomena, ao sentir e viver, também fisicamente, as consequências dessa trágica ocorrência.

Filomena, uma mulher que nos interpela a todos, de algum modo passivos cúmplices do mal que grassa nas nossas comunidades, quiçá nas nossas casas.

De uma forma singularmente bela e intensa, ela tem resistido a tudo com uma imensa dignidade, mas, sobretudo, tem resistido à indiferença, ao desânimo e ao conformismo. Merece mais do que qualquer pseudo-edificante homenagem, o reconhecimento da solidária dedicação a uma causa que teve que absolutizar, em prejuízo de outros interesses e de outras prioridades.
Continua, Filomena, a iluminar e inquietar as más (e também as boas) consciências oficiais (e as outras).
Tens que saber que te devemos muito. O teu exemplo é de uma impressionante e incomparável coragem.
És daquelas pessoas que um poeta disse, uma vez, serem as «indispensáveis».

Perante isso, como «destragedear» a vida?

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