20081105

Ah, o fétiche da «justiça»

«Mas tinha pena (...) sobretudo das juízas novas, saídas do CEJ, uma espécie de atracção sexual que não conseguia esconder de si mesmo quando uma delas se sentava, ajeitando os óculos, vestida de juíza, de negro, afastando o cabelo com a mão esquerda, a direita segurando a caneta, escrevendo, tomando notas - e ele imaginava o que estava escrito nesses blocos, que notas tomaria sobre os advogados de província, sobre aquele cheiro de fatos cinzentos usados duas vezes por semana, sapatos enfeitados de fivelas douradas, gravatas sóbrias de dois tons, anéis grossos, cabelo penteado com gel, sotaque do interior. Enquanto isso acontecia à sua frente, ele tentava adivinhar que roupa se escondia debaixo da farda de juíza, como seria o corte da saia, o decote da blusa, a lingerie, as meias, o pé, o sapato, como estaria sentada a juíza (ah, aquela covinha nas costas), imaginava um piercing preso ao umbigo ou ferindo um mamilo da juíza. E apreciava muito as juízas de meia-idade, gostava de vê-las sentadas, imagina o cadeirão recebendo traseiros moldados por vários anos de consultas a processos, leitura de dossiers, escrita de sentenças».

Francisco José Viegas, Longe de Manaus

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