20091020

O cego de Landim

«Pinto Monteiro organizou a boémia que, até àquele ano, roubando sem método nem estatutos, exercitara a ladroeira de um modo indigno de país em via de civilização. fez-se eleger presidente por unanimidade e nomeou seu secretário Amaro Faial. Havia um propósito quase heróico neste feito (...).
Quem ouvisse discursar o presidente sociologicamente, ficaria em dúvida se furtar era ciência ou arte. Pinto Monteiro enxertava nas suas prelecções acerca da propriedade umas vergônteas que depois enverdeceram com estilo menor nas teorias de Cabet. Os malandrins mais inteligentes, depois que o ouviram, desfizeram-se de escrúpulos incómodos, e entre si assentiram que não eram ladrões, mas simplesmente deserdados pela sociedade madrasta e vítimas de uma qualificação já obsoleta».

Camilo Castelo Branco, O cego de Landim

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