20091019

O «senhor amargo»

Quando a minha filha mais velha era mais pequena, referia-se a josé saramago como o «senhor amargo». Confesso que, mesmo inadvertidamente, nunca vi designação mais adequada.

O nosso prémio Nobel veio mais uma vez procurar notoriedade cavalgando a intolerância religiosa e o dogmatismo ateu, declarando que a «Bíblia é um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana». E disse mais: não deve esta mensagem afectar os cristãos, porque estes não lêem a Bíblia, mas talvez agastasse os judeus, mas «isso pouco o importa».

O facto é, em si mesmo, grave, pela desenvolta manifestação de uma sobranceria intelectual a todos os títulos reprovável - mas a esconder mal uma ignorância hermenêutica dos textos religiosos antigos - num ancião por quem se devia ter respeito. Apesar disso, o espírito proverbialmente tolerante dos portugueses, perdoar-lhe-á o disparate.

Mas, mais grave é que a comunicação social tenta, a todo o custo, silenciar, agora, o que o provecto escritor disse acerca do Corão e de Maomé.

Era bom que houvesse a coragem - em nome da fidelidade da informação e da liberdade de expressão - que os media reproduzissem o que o Nobel português disse sobre a questão. Para que os muçulmanos se possam pronunciar.
Eles também têm o direito a ser informados e a pronunciar-se.

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