20080909

Tragédia

Morreram ontem três trabalhadores, na derrocada de um prédio em obras de reabilitação no centro de Braga.
Passou-se isto no coração de um município cujos autarcas se ufanam de ser um concelho modelo, com uma qualidade de vida invejável e com um nível de equipamentos sociais e culturais incomparável.
Passou-se isto - dir-se-á - em pleno séc. XXI, no centro de uma das principais cidades do País, no mesmo dia em que, coincidentemente, se iniciaram as obras voluptuárias e megalómanas de prolongamento de um túnel rodoviário cuja única utilidade visível será valorizar um empreendimento privado num dos quarteirões principais, a intervencionar em breve.
O amadorismo, a falta de cuidado e qualidade, a negligência de empreiteiros e engenheiros, de técnicos fiscais camarários, sempre foi atributo deste tipo de trabalhos e operações em Braga. cidade tradicionalmente dominada pelos grandes interesses de construtores civis e imobiliários.
Desta vez, com resultados fatais e lamentáveis.
Os quais, os pretensos responsáveis pela «protecção civil» (ou pela desprotecção civil?) aproveitam ignobilmente para lamentar e endereçar os sentimentos às famílias, nos noticiários das 20H00, em directo, ao mesmo tempo que o edil sentenciava logo a «falta de cuidado» na execução da obra. Tudo isto enquanto os bombeiros, sem meios adequados, levantavam os escombros à mão, sob o pretexto de não atingiram nenhuma das vítimas soterradas.

É espantoso que esta situação possa não vir a ter consequências no plano da responsabilização empresarial e até político-administrativa, já que, ao nível infortunístico laboral e civil, essa responsabilização será inescapável.

Fica o lamento e a constatação de que nada se alterou. Numa época em que a estratégia aprovada contra acidentes de trabalho deveria reduzir em 25% a respectiva taxa até 2012, no último ano aumentou 10%.

Mas as tragédias não se lamentam. Evitam-se. Parece-me bem que esta é uma delas.

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