20061230

Da gratuita crueldade

Nunca esperei ter de escrever isto a propósito da morte de um ditador, mas creio que se justificará abordar a questão:

Saddam Husein foi enforcado, após um julgamento muito peculiarmente mediático mas pouco jurídico. Digamos que, em abono da verdade, se tratou de um pseudo-julgamento numa farsa de sistema judicial (só o não é quanto às consequências).
O único governo que se regozijou com o feito foi o dos EUA. Vergonhoso.
E o que se conseguiu?
Nada.
Abriu-se um capítulo histórico sem Saddam (vivo), mas com um "mártir" que pode ter uma influência bem pior do que se continuasse preso.
Impediu-se o imputado de se confrontar com a responsabilidade pelos demais crimes de que é(ra) acusado.

Há um evidente retrocesso civilizacional em todo este processo, em que a lei da força e da prepotência - ao suprimir-se (ainda que a coberto de uma justificação legal de opereta) uma vida humana - continua a preponderar, face à lei da razão e do bom senso.
O sinal dado foi o de um sistema de poder mas sem valores. Sem os valores que os povos do mundo precisam: da humanidade, da solidariedade e da reconciliação.
Foi cruel.
Foi gratuito.
Pior do que isso, foi a prova de assistirmos ao triunfo da barbárie.

1 comentário:

Justa Causa disse...

Justiça à iraniana, com os americanos a assistir...