20071017

África - U.E.

A África Austral é - e tem consciência disso - a reserva de recursos naturais do futuro.
Porém, o cenário com que se defronta na actualidade não é brilhante. O gosto das vantagens do poder e da corrupção faz efectivamente esquecer as tentações da guerra e da destruição. Respira-se um ambiente de desanuviamento no que respeita à eventualidade de conflitos armados (civis ou internacionais).
O HIV/Sida e a corrupção generalizada são, no entanto, as duas principais ameaças a um desejável processo de desenvolvimento humano, social e económico de toda a região.
Um outro motivo de receio é a forma de implantação de interesses chineses na zona, através da delapidação e esgotamento não sustentado dos recursos naturais (corte e exportação de madeiras, extracção de gás natural e de petróleo, pedras preciosas, aproveitamento de facilidades comerciais), a que acrescerá, porventura, a tendência de estabelecimento de muitos nacionais chineses em substituição das populações que forem sendo dizimadas pelo HIV/Sida (em Moçambique e África do Sul , cerca de 16% da população está infectada; o impacto da mortalidade de professores provocada pela pandemia HIV em Moçambique - cerca de mil professores mortos por ano - faz recear o colapso do sistema de Ensino).
Os sistemas políticos (com algumas excepções: Zâmbia, Namíbia, África do Sul) não atingiram ainda um nível de maturidade democrática.
Duvido que a maioria dos seus dirigentes tenha assumido - e muito menos interiorizado - uma verdadeira consciência de responsabilidade democrática.

Daí que a famigerada cimeira U.E. - África venha sendo, em grande medida, uma "mistificação". Em rigor, os dirigentes africanos, hesitantes no fortalecimento dos vínculos com os antigos colonizadores (europeus), dão ostensivamente preferência aos parceiros chineses nas sua relações comerciais e económicas.
Por isso, fazer ponto de honra no "problema Mugabe" é errar a perspectiva.
Mugabe tem a cumplicidade (mais ou menos envergonhada, mais ou menos assumida), dos seus "companheiros" dirigentes dos países vizinhos, apesar de uma crescente consciência crítica desfavorável de vastos sectores da opinião pública desses países (começam a sentir-se mais próximos das consequências das desastrosas políticas do regime do Zimbabwe, em que um terço da população está emigrada nos países limítrofes, com todas as inerentes implicações).
E, numa jogada magistral, já desafiou - como é seu timbre - os anfitriões europeus, que, desajeitadamente, terão, agora, que lidar com o dilema de desagradar ao ditador africano (e, reflexamente, aos seus comparsas) ou aos parceiros europeus mais "intransigentemente" apostados na defesa de pontos de vista da coerência de princípios e valores do humanismo e da democracia.
Com efeito, acho que Mugabe deve poder vir à cimeira. Não para receber "palmadinhas nas costas", mas para ouvir todos as críticas - se é que há coragem (haverá?) - que os europeus entendam dever fazer-lhe, sem receios e sem tibiezas, no local e momento próprios.

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