20071021

Regresso a Moçambique - (nota II).

Moçambique é - felizmente - um País multicultural. Um País onde se respira liberdade religiosa, liberdade de criação artística e de iniciativa cultural. A imprensa, apesar de não haver censura explicita, ainda é, nalguma medida, pouco afrontosa para com o poder instituído (sequelas do trauma Carlos Cardoso?), havendo jornais menos «alinhados», mas, ainda assim, bastante «respeitadores» da ordem estabelecida.

Uma das «inovações» que sinalizam os tempos, é mesmo a pluralidade de cultos religiosos. Desde a proliferação das «novas Igrejas cristãs» até à intensificação dos credos tradicionais do País.
A missa de domingo de manhã na Catedral de Maputo é um momento alto e enriquecedor de fecundo cruzamento entre elementos de coordenadas culturais e étnicas distintas, que foi alcançado pela vontade dos crentes que a frequentam e fazem dele um acto de verdadeira criação cultural.

Catedral de Maputo.

O Islão em Moçambique - não o devemos esquecer nunca - é anterior ao Cristianismo. Aquando da chegada de Vasco da Gama, o Islão influenciava já vastas áreas do litoral moçambicano desde o extremo Norte até Inhambane (a «Terra da Boa Gente», como lhe terá chamado o navegador português).


Estátua (apeada) de Vasco da Gama, em Inhambane.

O Islão africano, e particularmente, o que era observado em Moçambique, contava - durante o período de domínio português - com alguma tolerância das autoridades e havia até movimentos ecuménicos de coexistência pacífica entre os principais credos praticados: o Islão, o Cristianismo e o Hinduísmo.

A situação, em abstracto, não terá mudado. O que evoluiu foi o esforço de propagação (mesmo algum proselitismo) do Islão, com o auxílio dos Países árabes. Daí que se tenham visto surgir novas mesquitas e novas madrassas, sinal de recentes e significativas conversões. Em detrimento, é certo, de uma perda de (capacidade) de influência da Igreja Católica, compreensivelmente mais preocupada com a rivalidade dos novos cultos ditos cristãos.


Mesquita de Inhambane

O chamamento dos Mu´edhin na madrugada de Maputo constitui, assim, um inequívoco sinal de multiculturalismo e pluralidade de cultos.

Mesquita de Maputo.

Esta atmosfera de pluralismo cultural e religioso - em que são empreendidas lógicas de sobrevivência e de concorrência - só pode ter efeitos positivos e deve ser estimulada. Desde que se continuem a respeitar os mesmos valores comuns de paz, respeito e convivência pacífica.

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