20071027

Regresso a Moçambique - (nota IV)

Madre Teresa (de Calcutá)

Ao de leve, falei já do drama nacional de Moçambique que consiste na percentagem da população afectada pelo HIV/Sida (cerca de 16% num total, de acordo com as projecções do novo Censo em curso, de 20 milhões de habitantes).

Esse problema - verdadeiramente um pesadelo estrutural, dada a magnitude das implicações que poderão advir para todo um sistema social - pode vir a comprometer o sucesso de toda a esperança que se deposita (fundadamente) nas jovens gerações de moçambicanos.

É certo que as autoridades parecem estar alertadas para o problema e suas implicações (ao contrário do que se passou até há bem pouco tempo na vizinha República da África do Sul). No entanto, por um lado, não sei se estarão a cumprir os objectivos - e a ser suficientes - as medidas de prevenção da pandemia.

Expectativas na adopção de outros comportamentos sexuais ou na «descoberta» da vacina (recentemente foi anunciada a descoberta de um processo de interrupção da reprodução do vírus) do HIV/Sida, poderão não ser tempestivos ou nem permitir evitar uma hecatombe social.

Na verdade, as consequências da existência de inúmeros órfãos - alguns acolhidos em instituições e ONG´s, outros entregues à sua sorte -, a erosão dos laços de solidariedade familiar e social que tal acarreta, os enormes custos económicos e sociais que provoca a pandemia, faz recear o pior.

O sistema de Ensino público tem uma baixa de cerca de 1000 professores por ano devido à infecção, o que não permite repor a rácio de professor/alunos, complicando de forma grave a gestão de todo o sistema.



Neste quadro, instituições como a das Irmãs de Madre Teresa de Calcutá, em pleno coração do problema (a cerca de 50 metros da lixeira de Maputo), que acolhe crianças órfãs, desfavorecidas e doentes, são um bálsamo escasso num mar de atribulações.

No caminho para as instalações da Obra, no meio de um dos bairros da periferia de Maputo, encontra-se um "placard" oficial (não se sabe bem de que autoridade!), com os dizeres «15 anos a lutar contra a pobreza extrema», o que não deixa de ser uma enorme ironia, se se quiser confrontar o resultado dessa «luta» com a de um grupo de religiosas e outros colaboradores.

O que quer que se diga da Obra dessas Irmãs (seis delas indianas, quando a visitei), acompanhadas por voluntários e outras dedicadas pessoas que ali trabalham, é muito pouco. A sua inestimável Obra é merecedora de uma referência de altruísmo inexcedível, de uma abnegação ímpar, num contexto de adversidades sem fim.

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